quinta-feira, 2 de novembro de 2006

VITRINE DA LITERATURA - Nº 4

1984 – de George Orwell

Por Joannes Lemos
“Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota prensando um rosto humano para sempre”. Esse breve discurso ficará imortalizado como uma das preciosas preces de George Orwell, considerado um dos mais influentes escritores políticos do século XX.
E 1984 não poderia ter saído de outras mãos que não as de Orwell. A magnífica obra foi escrita em 1948, dois anos antes da morte de Orwell, e ainda mostra-se mais atual do que nunca. O livro é uma metáfora sobre o poder e as sociedades modernas, uma triste história de abuso de poder e totalitarismo desenfreado. No ano de 1984, o mundo está dividido em três grandes superestados: a Eurásia, a Lestásia e a Oceania. Esses três grandes estados vivem, ou pelo menos aparentam viver, em uma guerra implacável e permanente.
O desenrolar da trama orwelliana acontece em Londres, localizada no superestado da Oceania. O personagem central do enredo é o jovem Winston Smith, um jovem funcionário pós-balsaquiano do Ministério da Verdade. Isso mesmo, Ministério da Verdade. Mas não se deixe enganar pelo nome dessa instituição pública totalitarista. Lá também é possível encontrar o Ministério do Amor, Ministério da paz e Ministério da Fartura. Porém, suas funções não condizem com esses nomes, pois o objetivo desses Ministérios é realizar o inverso do objetivo que o povo acredita.
Winston, assim como todos os outros, vivem em um regime tirano, que exerce total pressão e opressão na vida dos cidadãos. Até a língua, o modo de falar e escrever das pessoas, passa a ser exercido de forma totalitária, ganhando o nome de Novilíngua. E o objetivo de criar uma nova língua é fazer com que, após alguns anos de uso, as pessoas não pudessem expressar suas idéias e emoções, visto que as palavras certas para isso, em desuso, seriam totalmente esquecidas depois de um tempo. E cada vez mais, os cidadãos viveram na mais completa submissão, uma vida obscura, sem sentimentos, sem evolução, sem perspectiva de justiça.
Mas existem coisas piores. Todos, sem exceção, vivem dia e noite vigiados pelas intrigantes teletelas. Em todos os cômodos, de todas as casas. Em todos os becos, em todas as ruas. Em todos os cantos. Não é possível dar um passo em falso, não é possível conspirar, não é possível rebelar-se. Onde não existem câmeras, existe a presença de microfones. É assim que o chefe supremo do Partido, o Grande Irmão, controla a vida de todos, passo a passo, sem qualquer pudor. É assim que Winston Smith convive. Ele, porém, quer conspirar, planeja vários esquemas com sua amada Júlia. Mas o livro de George Orwell não é um romance açucarado, muito menos um roteiro de novela mexicana. Ele acaba de forma extenuante. Derrotado. Não consegue mudar a realidade em que vivia. Uma realidade de um governo egocêntrico e que se qualifica como excelso, onde não existe liberdade de expressão, liberdade de opinião, liberdade ideológica. Inclusive, um dos lemas do Partido autoritário é “Liberdade é Escravidão”.
Dessa forma, os tiranos conseguem ludibriar boa parcela dos cidadãos, tendo a audácia de dizer fazer o melhor para todos, com estatísticas enganadoras. E os cidadãos acreditam, ou pelo menos se deixam enganar, achando que aquela é a melhor forma de governo. E a história de 1984 termina com tudo igual ao que era na primeira página. E o mundo obscuro da insanidade política continua o mesmo.
Vale lembrar que 1984 é o livro que inspirou a criação da febre mundial Big Brother, ou, Grande Irmão. Como se do que precisássemos hoje em dia fosse ser vigiado e controlado o tempo todo, e não exercer controle.
E assim dizia George Orwell, o famoso pseudônimo de Eric Arthur Blair: “Quando me sento para escrever um livro, não digo para mim ‘vou produzir uma obra de arte’. Escrevo porque existe alguma mentira para ser denunciada, algum fato para o qual quero chamar atenção, e acredito sempre que vou encontrar quem me ouça”.
Qualquer palavra que ele diga deve ser refletida, para conscientizar e humanizar o sentimento, as iniciativas e os ideais das futuras gerações.