domingo, 17 de dezembro de 2006

TV BEST BRASIL - Nº 3

Lá vai o Brasileiro, descendo a ladeira
Por Joannes Lemos
Entra ano e sai ano, e nós, pobres mortais brasileiros, convivemos com todo tipo de injustiça. As disparidades econômicas e sociais que nossa nação enfrenta são numerosas. Mas, o Brasileiro a que me refiro no título não é um cidadão. O Brasileiro do título trata-se do Sistema Brasileiro de Televisão, ou simplesmente, SBT, que assim como os brasileiros - pessoa física - também enfrenta crises.
Durante muitos anos, a emissora de Silvio Santos, fundada em 1981 como um canal de apelo fortemente popular, foi a vice-líder isolada de audiência. Alguns programas do canal marcaram época, principalmente os programas de auditório da emissora, como o Topa Tudo Por Dinheiro, Viva a Noite, TV Animal, Porta da Esperança e Boa Noite Cinderela, que fizeram muito sucesso entre o fim dos anos 1980 e começo dos anos 1990. Recentemente, o SBT levou ao ar programas de qualidade – o que é raridade para os padrões da emissora – como o Show do Milhão, e, mais recente ainda, o programa educativo SUPERNANNY, que assim como o Show do Milhão, foi um formato comprado de produtoras internacionais.
Na teledramartugia, o SBT também deixou sua marca, com produções de boa qualidade e que alcançaram patamares de audiência invejosos para a emissora. Novelas como Éramos Seis, As Pupilas do Senhor Reitor e Os Ossos do Barão, com alguns profissionais da poderosa Rede Globo. Outro produto que marcou o canal foram as melosas novelas mexicanas, que estiveram presentes no canal desde sua inauguração. Novelas como Carrossel, que arrebatou o coração de uma legião de fãs, que não perdiam um só capítulo das peripécias de Cirilo, Maria Joaquina e companhia limitada. Outro estouro latino do canal foi a trilogia das Marias – Maria Mercedes, Marimar e Maria do Bairro – todas estreladas por Thalia.
Depois de alguns anos com suas produções sendo realizadas em vários estúdios espalhados pela cidade de São Paulo, em 1999 Silvio Santos inaugurou o complexo de estúdios da Anhanguera, que passou a reunir, em um só lugar, todos os programas da emissora. Esses estúdios são considerados um dos mais modernos e completos da América Latina.
Mas, ultimamente, tanto espaço e tecnologia perderam sentido. A emissora de Silvio Santos atravessa atualmente uma grande crise de identidade. Os diretores do canal e o próprio homem do baú parecem estar perdidos, dançando o samba do crioulo doido, literalmente. Para começar, o canal não tem uma programação fixa, coisa que já não tem faz muito tempo. E agora tudo parece ter saído de controle. Ameaçada pela investida da Rede Record, que quer, de qualquer maneira, tirar a segunda colocação do SBT, os diretores da emissora, sob o comando de Silvio, resolveram bagunçar de vez o que já era uma bagunça. E o que vemos é um SBT que só vai descendo a ladeira. A cada dia que passa, a qualidade da emissora, que praticamente sumiu, se perde ainda mais. Todos os dias, os programas trocam de horário. As novelas mexicanas, que antes davam 15 ou 20 pontos, hoje penam para alcançar 6 ou 7 pontos. A magia dos programas de auditório do canal se perdeu por completo, se salvando apenas o novo Topa ou não Topa – também um formato importado.
E o jornalismo da emissora hein! Todos nós sabemos que o jornalismo sempre foi o ponto fraco do SBT. Silvio Santos nunca fez questão de investir neste serviço. Recentemente, mudou de idéia, e resolveu ressuscitar o fraco noticiário do canal, contratando nomes de peso, como Ana Paula Padrão e Carlos Nascimento. Mas nada disso funcionou. Apesar de tentarem, o jornalismo da emissora é bem fraco e ainda não mostrou a que veio. E as gafes vieram aos montes. A mais recente aconteceu a pouco tempo, quando, do nada, a apresentadora encerrou o telejornal SBT Brasil - certamente por uma decisão que chegou até seu ponto eletrônico, vinda de cima -, e, ao anunciar a próxima atração ficou muda, pois não sabia qual programa viria. O veterano Hermano Hening, que dividia a bancada com ela, ficou desconcertado.
O que nós, cidadãos brasileiros queremos, é que a emissora possa se safar dessa crise que atinge o canal, voltando dessa forma aos bons e velhos tempos, uma época em que a emissora era chamada de TVS. Sem querer ser pessimista, mas a atual programação do SBT lembra em muito a programação da saudosa TV Tupi em seus últimos dias de vida. Vários enlatados preenchiam a grade da emissora. Qualquer semelhança com o atual SBT seria mera coincidência. A vantagem é que a rede de Silvio Santos têm a Tele Sena e o Baú da Felicidade para apagar os incêndios financeiros do canal.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

CINE MILÊNIO - Nº 4

Água na boca e nos olhos
Por Joannes Lemos
O hábito de ir ao cinema é, sem sombra de dúvidas, gratificante e prazeroso. No escurinho do cinema, o espectador pode rir, chorar, se emocionar, ficar com raiva e trazer à tona vários outros sentimentos. E é claro, ir ao cinema com freqüência é uma ferramenta importante para adquirir um pouco mais de cultura. Mas é importante frisar que não basta ir a uma sala de exibição só para assistir produções norte-americanas. Os Estados Unidos não são o único país do mundo a produzir a sétima arte. Sabemos que eles são especialistas no assunto. Mas que fique bem claro: lá, filme é visto atualmente mais como um produto tipo exportação do que um produto cultural, apesar de que grandes obras-primas ainda são produzidas por lá.
Precisamos criar o costume de ir às salas de exibição que oferecem filmes de outras nacionalidades. Muitas vezes não fazemos isso por preconceito e por acreditar que as produções cinematográficas de outros países são ruins e de baixa qualidade. Miserável engano. Outros países são capazes de oferecer ao grande público trabalhos magníficos. Podemos destacar a França, a Espanha, a Índia e o Irã, e até mesmo o Brasil, que presenteia o público com produções bem arranjadas como Zuzu Angel, mas que volta e meia escorrega, produzindo títulos como “O Cavalheiro Didi e a Princesa Lili”. Ninguém é perfeito, mesmo ainda existindo público e demanda para este tipo de filme.
A culpa pela falta de exibição de bons filmes não americanos também é dos exibidores. São poucas as salas que exibem filmes do circuito alternativo. É por isso que devemos aplaudir a atitude da Lentes Varilux e da Pandora Filmes, que juntas apresentaram entre os dias 10 de novembro e 21 de dezembro o 5º Festival Varilux de Cinema Francês, que exibiu a cada semana, em duas cidades diferentes, sete filmes franceses. Entre as cidades sortudas que puderam fazer parte do calendário de exibições estava a nossa capital Vitória. Os sete longas foram apresentados no Cine Ritz Jardins em Jardim da Penha. Durante seis dias, os cinéfilos como eu puderam acompanhar obras de primeira linha. São elas: A Comédia do Poder; Eu Me Chamo Elisabeth; Paris, Eu Te Amo; Em Direção ao Sul; Você é Tão Bonito; No Calor do Verão e A Cidade Está Tranqüila.
É uma tarefa complicada ao extremo dizer qual destas produções é a melhor, não tem como chegar a uma conclusão desse tipo. Todas sem exceção são de primeira linha. Infelizmente, não tive o privilégio de assistir No Calor do Verão e A Cidade está Tranqüila, mas com certeza, e, segundo a crítica, são obras-primas, assim como as outras.
A Comédia do Poder (2006) fala de poder e corrupção com pitadas de ironia, que o diretor Claude Chabrol soube utilizar na medida certa. A atuação da atriz Isabelle Huppert dispensa comentários, e é capaz de deixar qualquer um embasbacado. Eu Me Chamo Elisabeth (2006), que se passa na década de 1940 no interior da França, é um drama que fala de separação familiar de forma bem leve e meiga, capaz de deixar no final a sensação de ‘que pena que já acabou’. Paris, Eu Te Amo (2006) é uma produção realizada por 23 cineastas de diferentes países, entre eles os brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas. Cada diretor teve 5 minutos para contar uma história que mostrasse uma das faces de Paris, que foi a grande estrela da produção. Este filme também conta com um elenco estelar, entre eles, Juliette Binoche (Chocolate) e Nathalie Portman (V de Vingança). Você é Tão Bonito (2006) é uma comédia romântica graciosa que provoca risos sem necessidade de apelação. E para o fim deixei Em Direção ao Sul (2005), co-produção França-Canadá. A narrativa, uma das que mais gostei, acontece na década de 1970 numa praia paradisíaca do Haiti, onde duas estrangeiras maduras se apaixonam por um nativo de 18 anos, dando origem a uma disputa que envolve sensualidade misturada com carência afetiva.
Com essa rodada de filmes franceses veio junto uma onda de satisfação e prazer por poder assistir obras tão bem produzidas e qualificadas. Ao mesmo tempo em que dava vontade de sorrir, também dava vontade de chorar, pois os olhos enchiam de lágrimas no fim de cada filme, e a boca ficava salivando, querendo mais e mais e mais. E o idioma inglês nem fez falta. Agora, é esperar 2007 chegar e esperar que a sexta edição do festival venha para nossa cidade novamente.