sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

$ERÁ QUE ELE AINDA RENDE?

Por Joannes Lemos


Lá sem foram os tempos áureos de Ronaldo Luís Nazario de Lima, mais conhecido com Ronaldo “Fenômeno”. Aos 32 anos, Ronaldo vê sua carreira de futebolista minguar ainda cedo, ao contrário de outros craques, que encerraram suas carreiras em alta.

Não é especialidade do blog Contemporâneo falar sobre futebol, mas o autor desse post tentará fazer das tripas coração para discorrer sobre o assunto. Todos já viram nos jornais, revistas, TV, internet e outros meios de comunicação que o ídolo número 1 de Galvão Bueno vai “jogar” no Corinthians. Fato que acontece após passagens bem sucedidas por alguns times europeus, como PSV da Holanda (42 gols em 45 partidas), Barcelona da Espanha (34 gols em 37 partidas), Internazionale da Itália (49 gols em 68 partidas) e Real Madrid da Espanha (82 gols em 127 partidas).

A trajetória inicial de Ronaldo não pode ser ignorada. Como quase todos os jogadores que sobem na vida, ele começou em times pequenos. Em 1990, começou sua carreira no Social Ramos Clube e, em seguida, foi parar nos gramados do pequeno São Cristóvão, ambos do Rio de Janeiro. A carreira de Ronaldo, no entanto, só começou a deslanchar a partir de 1993, quando ele jogou no Cruzeiro. Com 12 gols em 14 partidas, o menino prodígio do futebol brasileiro daquela época chamou a atenção de grandes clubes internacionais.

O menino do subúrbio carioca, então, foi desfilar seus dribles de craque nos gramados do velho mundo. Paralelamente à carreira internacional, Ronaldo deixava sua marca na seleção brasileira, quando, aos 17 anos, foi campeão mundial na Copa do Mundo dos Estados Unidos em 1994. Entre esse ano e 2006, o novo camisa 9 do Corinthians marcou 74 gols em 112 partidas a favor da seleção canarinho. Números que não podem ser desprezados.

Após um período de grande ascensão profissional, pontuada por glórias, dinheiro e muitas festas regadas à champagne, a carreira de Ronaldo ganhou um sentido de decadência, com muitos escândalos e manchetes corriqueiras em tablóides sensacionalistas. O dinheiro e os escândalos continuam. As glórias, nem tanto.

O futebol dele já não é o mesmo há muito tempo. Se é que ainda é possível falar que ele joga alguma coisa. Aqueles passes mágicos que lembravam Pelé e Garrincha já não existem mais, ou, pelo menos, não são repetidos com a mesma freqüência de seus tempos de ouro. Não que esse declínio seja algo desejável para os caminhos de Ronaldo, mas esperava-se que ele tivesse um fim de carreira com os holofotes positivos da mídia e da opinião pública, e não que seu nome fosse motivo de chacota.

Nos últimos dias, contudo, chega a ser engraçada a forma como apresentaram o nome do jogador aos torcedores. O Corinthians, que emergiu da segunda para a primeira divisão do campeonato brasileiro, apresentou o ex-fenômeno com toda a pompa que o outrora melhor jogador do mundo teria direito. Na verdade, o nome dele ainda representa um grande peso para qualquer time. O problema – também para qualquer time – é o fato do jogador estar acima do peso, o que o impossibilita de uma atuação apreciável.

Depois do choro da torcida flamenguista, que ainda tinha esperanças de ver o atleta na equipe carioca, foi a torcida do time paulista quem comemorou. Provavelmente, Ronaldo não trará muitos saldos positivos ao Corinthians, pelo menos não no saldo de gols. As verbas publicitárias, todavia, irão “bombar”, afinal, Ronaldo pode não ter mais futebol, mas ainda é dono de um bom apelo comercial.

sábado, 18 de outubro de 2008

BARBÁRIE


Por Joannes Lemos

Quando se pensa que nada de perverso e banal pode voltar a acontecer, eis que lá vem a bomba. Como se já não bastasse as mazelas diárias, como crises americanas, provas e trabalhos nos estudos, dinheiro curto e taxa Selic em alta, ainda temos que acompanhar o drama de mais uma história que mais se parece uma lenda urbana. E não existe a possibilidade de ficar alienado a tudo isso.

Esteve e ainda está em todos os veículos de comunicação o caso estarrecedor do seqüestro das adolescentes Eloá e Nayara, ambas de 15 anos, enclausuradas pelo jovem Lindemberg Alves, 22 anos, em Santo André, no ABC paulista. O rapaz, como todos já sabem, não se conformava com o fim do namoro com Eloá. Num ato de insanidade ele manteve as duas meninas em cativeiro desde o dia 13 de outubro, segunda-feira. O seqüestro, que terminou com cenas cinematográficas, só chegou ao fim na tarde da sexta-feira, 17. Nayara, que chegou a ser libertada, voltou dias depois em solidariedade à amiga. Atitude impensável nos dias de hoje. Mas a volta dela ao cativeiro foi um erro gritante.

Nesse momento todos se perguntam: por quê? Como pode um jovem saudável, normal segundo as pessoas que o conheciam, cometer impensavelmente um ato que, deveria ser presumido, teria grandes chances de acabar em tragédia?

E o desfecho dessa novela (ou filme) só poderia mesmo terminar em desgraça. A polícia, sem conseguir negociar e não demonstrando capacidade para isso, precisou invadir. Entretanto, essa ação foi praticamente inevitável, pois o jovem Linbemberg demonstrou ser uma pessoa descontrolada durante os quatro dias de negociações.

Em todos os dias do seqüestro as emissoras de TV, sites e jornais deixaram a população a par da situação. Palmas para nossos meios de comunicação. Mas teve gente que exagerou, e tentou fazer o papel de negociador ao vivo. Ai ai hein Sonia Abrão! Mas por ser quem foi nem surpreende. Afinal, para alguns pseudo-programas de TV vale tudo por uns 2 pontinhos a mais na medição prévia do ibope.

O que todos querem agora é um desfecho feliz para as jovens feridas, apesar do estado gravíssimo de Eloá (até a postagem deste texto o estado dela era delicadíssimo, com poucas chances de sobrevivência). Espera-se também que Deus dê um rumo para a nova vida tortuosa que Lindemberg terá pela frente.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

A REFORMA DO RETROCESSO


Por Joannes Lemos

Esqueça boa parte do que você aprendeu da língua portuguesa durante seus fatigantes anos de estudo. A partir do próximo ano entra em vigor o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, mas ainda não existe data definida para a nova dor de cabeça ser obrigatória em definitivo, afinal, o presidente Lula ainda não sancionou o acordo. O mais provável é que o uso obrigatório da nova mudança esteja valendo a partir de 2012. Esse seria o tempo para as devidas adaptações. Mas cá entre nós: em um país com tantas reformas urgentes, como a reforma tributária, a reforma da Previdência e a reforma trabalhista (ufa, são tantas) fomos penalizados justo com a reforma que não desejávamos.

Outras nações de língua portuguesa também fazem parte do acordo. Além do nosso país, Portugal, Cabo Verde e São Tome e Príncipe também ratificaram. Afinal, o propósito é exatamente esse, o de fazer com que a escrita da língua portuguesa seja comum nos países que a falam. Porém, segundo os lexicólogos (aqueles sujeitos estudiosos de uma língua), o país que mais sofrerá com a mudança será Portugal. No manancial da nossa língua, as mudanças chegarão a 1,6% do vocabulário. Em terras tupiniquins, esse número gira em torno de 0,5% da língua.

Parece pouco, mas é o suficiente para fazer um estrago poderoso. Se você é do tipo aventureiro e gosta de emoções, como por exemplo, pegar um vôo e pular de pára-quedas, saiba que agora você pegará um voo para saltar de paraquedas. Aprecia uma boa lasanha assada no microondas? Então agora você precisará colocá-la no micro-ondas. Se você ainda não foi em uma auto-escola para dar início ao processo da sua carteira de habilitação, então corra. Além de mudanças que vem por aí para tirar sua permissão para dirigir, anunciadas recentemente pelo Detran, agora, caros amigos, vocês precisarão se situar e procurar uma autoescola, assim, tudo junto. Ficou com dor de cabeça? Isso é apenas a ponta do iceberg. Se você ficar doente com tudo isso e precisar de um antiinflamatório, então procure uma farmácia e solicite um anti-inflamatório.

É possível ter uma idéia (oops, a partir do novo acordo será ideia) dos transtornos que isso causará em nosso cotidiano. Profissionais da comunicação, como nós jornalistas, sofreremos e comeremos o pão que o Camões amassou até nos acostumarmos. As editoras precisarão fazer a revisão das novas edições dos livros. Os que estiverem na prateleira a partir da vigência do acordo ficarão obsoletos. Os livros escolares, que são reaproveitados no ano seguinte precisarão ser trocados, a menos que se queira regredir ainda mais na nossa vacilante educação pública. São mudanças desnecessárias. Estudar por anos a fio e de repente ser forçado a reaprender que seu cachorrinho não tem mais pêlo, mas sim pelo, é uma atitude quase fascista. A população foi consultada para saber o que achava da mudança? Não estamos em um regime democrático? Ou estamos na China, um comunismo capitalista onde tudo não é o que parece?

Soa divertido e ao mesmo tempo utópico saber que a pessoa responsável pela canetada da discórdia será um presidente que vive atropelando a norma culta de nossa língua. Pelo visto, Lula nem sabe do que se trata o acordo, já que muita coisa ele não sabe e não vê. Até mesmo estudiosos da nossa língua são contra a mudança. O professor Pasquale Cipro Neto disse que o acordo é “um tiro no pé”, e que isso “não trará efeitos positivos”. Agora, é esperar a validade da decisão e comprar um novo Houaiss, o Aurélio ou o Michaelis. E ter compaixão do nosso word, que ficará burrinho, grifando tudo quanto é palavra que na verdade, pelo novo acordo, estará correta. O que mais me deixa triste nisso tudo é saber que os simpáticos pingüins vão perder o trema (que será banido da nossa língua) e se chamarão pinguim. Ainda bem que a pronuncia não muda. Agora, que venham as conseqüências, ou melhor, consequencias.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

BATE NO PEITO


Por Joannes Lemos

Os jogos olímpicos estão de vento em popa. Medalhas tilintando no peito dos competidores, alçados ao posto de heróis. Tal classificação não é exagero. Chegar aos jogos da China não parece ter sido fácil, e mais difícil ainda tem sido conseguir um lugar mais alto no pódio. Nessas olimpíadas vemos uma inversão no topo do quadro de medalhas. Os esnobes norte-americanos, outrora líderes isolados no ranking de medalhas do começo ao fim dos jogos, agora precisam se conformar com um segundo lugar. Uma posição invejável, mas que para eles está descendo garganta abaixo como um sapo seco. E os chineses exibem suas medalhas que batem no peito.
A paisagem de Pequim talvez não seja a mais inspiradora como forma de alcançar uma boa conquista esportiva. A capital chinesa, mergulhada no conformismo bilateral comunismo-capitalismo se esforçou para mostrar ao mundo a maior competição olímpica de todos os tempos. A nuvem escura de gases e todos os tipos de poluentes estão por todo lado. Pequim não tem uma paisagem natural, tudo lá soa bem artificial. Construções monumentais e improváveis dão o tom do que o mundo pode esperar da futura superpotência mundial: o Aeroporto Internacional que lembra um dragão; o Estádio Nacional, vulgo Ninho do Pássaro; e o Centro Aquático, conhecido como Cubo d’Água possuem formas tão inacreditáveis que por um instante esquecemos que se trata de um país com 1,3 bilhão de habitantes, e que nada menos do que 800 milhões de pessoas de olhinhos puxados vivem abaixo da linha da pobreza.
Tudo parece ainda mais surreal quando observamos uma construção apelidada de Calças: a sede da poderosa emissora de televisão estatal CCTV (Central Chinesa de Televisão), onde duas torres inclinadas, parecendo querer cair, se apóiam uma na outra. Uma semelhança com o povo chinês: apesar das tristes histórias das pessoas que vivem no interior, inclusive das vítimas do recente terremoto na região central do país, todos se apóiam em nome do nacionalismo chinês.
As cifras desprendidas pelo governo chinês nesses jogos impressionam. Os mais de US$ 40 bilhões é dinheiro suficiente para matar a fome de muitos cidadãos chineses. Mas não foi suficiente para impressionar a delegação brasileira. Ainda continuamos com muitos representantes em várias modalidades, mas ainda com pouquíssimos resultados. De quem é a culpa? É óbvio dizer que é do poder público, que pouco investe na prática de esportes como uma prioridade das políticas públicas.
Mas a sociedade também pode colaborar, exigindo e fazendo parcerias para que a educação física das escolas seja levada mais a sério, e que centros esportivos possam ser mais bem planejados para não excluir ninguém. Enquanto investimentos dessa ordem custam a sair do papel em terras brasileiras, vemos nosso país ficar atrás de Jamaica, Etiópia e Quênia no quadro parcial de medalhas. Não que essas nações não sejam merecedoras, mas nós, por sermos emergentes na economia, também poderíamos começar a pensar em ser emergentes no esporte também. É uma emergência que vem a calhar. Um motivo para, enfim, batermos no peito.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

UM PASSO À FRENTE, DOIS PASSOS PARA TRÁS


Por Joannes Lemos

"A novela é o espelho mágico dos brasileiros. Reflete a nossa realidade." Assim disse o novelista Lauro César Muniz, autor de grandes sucessos como ‘O Salvador da Pátria’, ‘Roda de Fogo’, ‘Espelho Mágico’ e ‘O Casarão’. Mas parece que algumas emissoras não estão dando importância para a célebre frase do autor. Talvez nem conheçam a sentença. Quem pode explicar isso melhor é a Rede Record de Televisão. Segundo o jornal O Globo, a atual vice-líder de audiência entre as TV’s abertas assinou contrato com o grupo mexicano Televisa. É isso mesmo: em pouco tempo, teremos dramalhões mexicanos à moda brasileira no canal dos bispos.
A Record teria chegado a um acordo com a Rede Televisa, onde produzirá novelas com textos mexicanos, mas não vai exibir as produções de lá. Pelo menos por enquanto. Mesmo assim, isso significa um grande retrocesso, num país repleto de bons autores e com grande tradição na produção de boas telenovelas. A nova aposta da Record não é inédita na história da nossa televisão. Em 1964 a prática já existia, quando a saudosa Ivani Ribeiro escreveu dois grandes sucessos: A moça que veio de longe, adaptação de um texto argentino; e Alma Cigana, adaptada de um texto cubano. Ambas foram escritas para a extinta TV Excelsior. O primeiro sucesso estrondoso da teledramaturgia nacional, O Direito de Nascer, exibida em 1965 pela Tupi, também era uma adaptação de texto cubano.
Não pense que a toda poderosa Vênus Platinada TV Globo ficou longe dos dramalhões latinos. Na segunda metade dos anos 60 a emissora carioca contratou a novelista cubana Glória Magadan, tida como uma grande conhecedora dos enigmas que poderiam transformar uma novela em fenômeno absoluto. Porém, as novelas de Glória não tinham compromisso nenhum com a realidade brasileira. Seus enredos – super-produções para os padrões da época – se passavam na corte francesa, no Marrocos, no Japão e em outros cantos do mundo. Seus personagens centrais eram rainhas, duques e condes. Algumas novelas de sucesso de Glória foram O Sheik de Agadir, A Rainha Louca e Eu Compro Esta Mulher. Em 1967 a Globo contrata Janete Clair, que se transforma numa espécie de pupila de Glória Magadan. Percebendo a necessidade de criar um produto que tivesse mais a cara do brasileiro, Janete passa a produzir textos mais condizentes com a nossa realidade. A partir daí, a Globo rompe com Glória, e as novelas, mais realistas, ganham ares de brasilidade.
Outro exemplo de emissora que aderiu aos dramalhões latinos foi o SBT, obviamente. Desde a inauguração da emissora, em 1981, o canal de Silvio Santos exibia novelas latinas, principalmente mexicanas. Apesar de estar totalmente fora de nossa realidade, algumas merecem destaque, como Maria do Bairro, A Usurpadora, e é claro, Carrossel, que tirou preciosos pontos do Jornal Nacional na época em que foi ao ar. As novelas mexicanas são boas para os mexicanos, que se identificam com esse produto. Mas não prestam um grande serviço aos brasileiros. Diversão as nossas já oferecem. A partir de 2001, o SBT, em uma parceria inédita da emissora com a Televisa, passou a produzir os textos mexicanos em seus estúdios de São Paulo, além de continuar exibindo as histórias enjoativas de antes. A cada ano que se passava a audiência das produções mexicanas do canal do Chaves definhava cada vez mais, e a sociedade foi interrompida em 2007, quando foi ao ar Amigas & Rivais, a última novela da dobradinha SBT-Televisa.
É aí que está o ponto mais curioso da recente parceria Record-Televisa: se isso não estava dando certo no SBT, que agora está em 3º lugar no ranking geral da audiência – e isso em parte se deve a debilidade das novelas mexicanas – por que então a emissora da Barra Funda teve a idéia de trazer de volta algo que até o pacato SBT rejeitou? Com tantos autores de qualidade em nosso país, talvez não fosse a melhor solução do momento para a emissora que quer chegar a liderança adaptar textos de gosto duvidoso. Vamos combinar que as atuais novelas da Record não são nenhuma maravilha. São uma das piores depois da retomada de produção própria do canal (em termos de conteúdo, já que a audiência, em contraponto, está boa para os padrões da emissora). Os Mutantes praticamente não tem texto, assim como a recém-lançada Chamas da Vida. Ambas se apóiam aos efeitos especiais (nem tão especiais assim) para chamar a atenção. É claro que a vice-líder produziu bons folhetins, como a nova versão de A Escrava Isaura, de Tiago Santiago, Essas Mulheres, de Marcílio Moraes, e Cidadão Brasileiro, do já citado Lauro César Muniz.
Se com a nova empreitada a Record quer chamar a atenção, talvez vá conseguir. Difícil ainda é saber se dará certo, o que significa ter boa audiência. Possivelmente, a emissora fará uma novela em que uma mocinha super-chorosa ganha superpoderes e salva a Terra, ou então uma empregada doméstica muito pobre encontra sua irmã gêmea muito rica e descobre que eram siamesas quando crianças. O nome da primeira poderia ser ‘Lágrimas de Amor’, e da segunda ‘Maria de Sangue’. Brincadeiras à parte, a decisão da Record pode ser um grande equívoco, em um momento decisivo para a emissora. Não custava nada colocar no ar um terceiro horário de novelas água com açúcar, mas ao estilo brasileiro. Afinal, ninguém sabe fazer novela melhor do que nós, sejam elas com mutantes ou não.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

DE VOLTA À VIDA


Por Joannes Lemos

"Foi por meus filhos que segui com vontade de sair da selva". Essa foi uma das primeiras declarações de Ingrid Betancourt ao rever os filhos, Melanie e Lorenzo, depois de seis angustiantes anos de cativeiro. A franco-colombiana foi privada do calor do carinho dos filhos. As duas crianças hoje são dois belos jovens. Já a Ingrid da foto ao lado destoa totalmente da atual: abatida, pálida, com profundos sulcos de magreza no rosto. Daqui para a frente, porém, essa imagem ficará no passado. A figura de Ingrid Betancourt deve sempre ser lembrada como a de uma mulher combativa, bela e forte, características que ela nunca perdeu. A perseverança dela é exemplo para todos nós.
Passar pelos maus bocados por que ela enfrentou não foi tarefa das mais fáceis. Só uma pessoa com muito controle emocional e esperança por dias melhores teria força para superar as mazelas de um cativeiro no meio da selva amazônica, incrustada em território colombiano, e sob domínio de mercenários que se diziam revolucionários. Revolução de quê? Da barbárie e da total ausência de discernimento?
A última libertação de prisioneiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que deu a Ingrid o direito de voltar a viver, representa um dos mais duros golpes contra o maior grupo armado da América. Junto com ela, outros 14 reféns foram libertados. Lideranças de vários países deram os parabéns ao governo de Álvaro Uribe por mais uma vitória diante das Farc, como George W. Bush, Nicolas Sarkozi e Lula. Vozes do poder ecoam por todos os lados elogiando a ação libertadora. Mas isso ainda não significa o fim das Farc. Muitas pessoas, sejam elas conhecidas ou não, ainda estão sob o poder desse grupo sanguinário, considerado por muitos como uma facção terrorista. Essa organização de inspiração comunista e que usa táticas de guerrilha, tenta implantar – à força – o socialismo na Colômbia.
Recentemente a organização perdeu seu líder, Manuel Marulanda, mais conhecido como Tirofijo (tiro certeiro) fundador e comandante das Farc. Em março, mesmo mês da morte de Tirofijo, morreu também Raul Reyes, considerado o segundo membro mais importante da organização. Assim, é cada vez mais visível a perda de poder desse grupo. Já não era sem tempo. Nossos vizinhos colombianos precisam de um pouco mais de paz, assim como nossos irmãos da favela da Providência, assim como os iraquianos, assim como os palestinos. Saber que uma organização criminosa como essa perde espaço é uma notícia acalentadora, em um mundo marcado pela indiferença e atitude blasé dos governantes. Tomara que as palavras de Ingrid Betancourt estejam certas: "Eu acredito que é um sinal de paz para a Colômbia, que nós podemos encontrar a paz". Não apenas para a Colômbia, mas para todos nós que precisamos de tranquilidade.


terça-feira, 3 de junho de 2008

UMA NOVA PROMESSA DO HUMOR



Por Joannes Lemos

Em 1999, a TV Globo colocava no ar o humorístico Zorra Total, que na época entrou na grade da emissora nas noites de quinta-feira, com a missão de conter o sucesso do programa “Ô Coitado”, do SBT. Porém, massacrado pela atração da atriz Gorete Milagres, o programa global perdeu espaço e foi parar nas noites de sábado, onde está até hoje. No início o Zorra Total tinha em seu cast um elenco estelar, como Cláudia Gimenez, Chico Anysio e Denise Fraga. Depois de um tempo, a atração sob o comando de Maurício Sherman foi ganhando toques mais populares, e humoristas de menos peso ganharam espaço.

Novas promessas do humor brasileiro foram lançadas no programa, como Maria Clara Gueiros (Márcia), Fabiana Karla (Dr.ª Lorca), Welder Rodrigues (Jajá) e Samantha Schmutz (Juninho Play). Mesmo com a qualidade de alguns humoristas, o Zorra sempre recebeu críticas negativas – em sua maioria. Ultimamente, porém, o que temos visto são esquetes mais consistentes e com uma pitada de ironia politicamente incorreta, e não menos construtiva. Seja o olho gordo que remete ao egoísmo e inveja da sociedade em que vivemos, seja a gula compulsiva de uma gordinha nutricionista que é feliz com o que come, e não com os regimes cada vez mais loucos que muita gente faz de olho em um corpo de capa de revista.

Recentemente apareceu um dos quadros mais engraçados dos últimos tempos do programa global. Trata-se do quadro de Lady Kate. Interpretado pela atriz estreante em TV, a carioca Katiuscia Canoro, a esquete abre todas as edições do programa e se transformou em um dos maiores sucessos de audiência do humorístico. Com um humor bem simples e popular, os bordões de Lady Kate já estão na boca do povo. “To pagaaano!” e “Dinheiro eu tenho, só me falta-me o gramour!” estão virando mania nacional. Com seu visual de perua que acabou de entrar para a elite, Lady Kate é riso certo. Isso só é possível porque a personagem é interpretada pela já citada Katiuscia Canoro, apontada como a nova Maria Clara Gueiros do Zorra Total (e que hoje interpreta a Suzy na novela das 19hs, Beleza Pura).

O tom de ironia do quadro é certo, e cada um interpreta como quer. Em todas as esquetes de Lady Kate, a personagem sempre diz para seu personal society Glauber que ela saiu de uma situação difícil depois que apereceu em sua vida um senador. O que dá a entender que só com uma ajudinha da política ela pôde entrar para a high society brasileira, e com um belo golpe do baú agora pode ter uma vida de quase celebridade. Engraçado, mas conheço uma história parecida que aconteceu há pouco tempo em Brasília. Nao importa, é passado. O que importa é que com seu linguajar claudicante a Lady Kate da impagável Katiuscia Canoro é garantia de boas risadas nas noites de sábado. O Zorra Total ainda tem salvação.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

QUEM É O MAIS COITADO?


Por Joannes Lemos

A raça humana parece mesmo ter perdido a noção de solidariedade, humanidade, reciprocidade. Amor então nem se fala. Não vai demorar para os inventores de plantão criar uma espécie de amormômetro(termo criado aqui), para medir a intensidade de amor que existe em cada um. Os valores bons vão embora, e os sentimentos de ira, raiva, ódio, esses se impregnam cada vez mais em nosso cotidiano.
A mistura de sentimentos bons que ainda nos restam, junto com os sentimentos ruins que pipocam pela humanidade, se misturam com outros sentimentos que ficam em cima do muro. Com a mais recente tragi-novela brasileira – que estreou no dia 29 de março – sem data prevista para acabar, o sentimento de pena ficou ainda mais evidente. Pela definição, coitado quer dizer desgraçado, infeliz, mísero. Ou seja: Pobre dele, ou dela. Mas, com toda reviravolta do caso Isabella Nardoni, impiedosamente assassinada, a pergunta que fica é: Coitado de quem?
Coitadinha da menina Isabella, um brotinho que teria uma longa vida pela frente, se não fosse submetida à brutalidade de pessoas insanas, tendo a vida interrompida precocemente?
Coitados de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, duas pessoas que deveriam privar pela segurança da menina, e, acredita-se, são os mal-feitores que liquidaram a vida da criança?Coitada da imprensa, que desesperada por uns pontos a mais na audiência, uma vendagem a mais de jornais e revistas, e uns cliques a mais nos sites informativos, mobilizam dúzias de equipes de jornalistas para a fatídica cobertura jornalística?
Coitados dos jornalistas, que na obrigação de atender aos anseios e mandos dos patrões, acabam se engalfinhando pelo melhor ângulo de câmera, pela melhor fonte, pela melhor foto, pelo grande furo do capítulo do dia?
Coitada da Sonião Abrão, que passa horas à fio a frente de um programa vazio, sensacionalista, fazendo a cobertura do calvário de uma família?
Coitado do Lula, que vê o espaço que poderia ser dedicado aos bons momentos de seu governo perdido para o sensacionalismo?
São muitos coitados e muitos sofredores, numa lista que se presume longa. Fica até difícil saber quem é o mais coitado. A Sonia Abrão certamente não é. O programa dela é descartável, hipócrita, sujo. Ela faz aquilo porque gosta. Vive da carnificina alheia. É o urubu em forma de pessoa fútil. Vergonhoso dizer que é feito por profissionais de comunicação.
Alexandre Nardoni e Anna Jatobá até tentaram se fazer passar por infelizes em uma entrevista exclusiva. Mostraram-se bons atores e deixaram outras emissoras de televisão com sentimento de coitadinhas, frente ao furo da Globo. Todas as emissoras só pensam, no atual momento, em seguir, perseguir ou conquistar, custe o que custar, o caminho da liderança. Mesmo que a audiência a mais conquistada ultimamente não se traduza em faturamento maior.
O Lula também não é o mais coitado. Se por um lado as pessoas esquecem que seu governo anda de vento em polpa, por outro também nem lembram do escândalo dos cartões, da máfia das sanguessugas, dos mensaleiros (por onde andam?), da mancada da mãe do PAC...
Existem outros quase coitados: a menina Isabella sofreu antes de morrer, sentiu dor, agonizou nos últimos momentos de uma breve vida, numa situação dantesca que nenhum ser humano merece passar. E ainda por cima a memória que fica dela é de uma criança que morreu brutalmente. Ela precisa descansar em paz. Mas hoje ela está em um lugar muito melhor do que o nosso. Pelo menos ela teve a oportunidade de não se misturar com as sujeiras a que todos somos submetidos e apresentados na medida que crescemos. Certamente ela será um lindo anjo, mesmo que muitas pessoas não acreditem em céu e em seres superiores. Deus está olhando por ela.
Enquanto isso, aqui embaixo, coitados dos jornalistas e da nossa imprensa. Parece que a cada dia perdem mais o rumo da sensatez, já que tudo é motivo de banalização, fruto da sociedade do espetáculo cada vez mais mergulhada na vulgaridade.
A bem da verdade, somos todos coitados. Apesar de sermos rotulados como os únicos seres racionais, não aprendemos ainda a controlar nossos impulsos. Parece que agimos apenas por instinto. Não aprendemos a usar a balança, onde sentimentos bons devem pesar mais que os sentimentos ruins. E o pior é que ainda nem sabemos como classificar o sentimento de pena. Nós somos os mais coitados!!

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A DEUSA VENCIDA


Por Joannes Lemos

O Espírito Santo nunca bombou tanto na mídia internacional como nas últimas semanas. O aeroporto de Vitória, que já é de proporções mínimas, ficou ainda menor quando um batalhão de jornalistas da imprensa local, nacional e internacional – muito chique isso - deu um rebuliço a mais no até então pacato lugar. Tudo para receber, ou melhor, fotografar, perguntar, cotovelar, enfim, urubuzar mesmo, aquela que foi apontada como uma das responsáveis pela renúncia de Eliot Spitzer, ex-governador de Nova York.
Andréia Schwartz, 31, nasceu em Vitória. Quando ainda criança seus pais se divorciaram e ela foi morar com o pai em Colatina, norte do Estado. Aos 13, voltou para a casa da mãe, época que começou a ajudá-la como manequim numa pequena loja de biquínis. Quando da ocasião de uma feira de carros em Vila Velha, Andréia foi vista e admirada por representantes de uma empresa, que imediatamente a levaram para o Rio de Janeiro. Lá, ela conheceu muita gente, fez contatos e engatou namoro com um italiano. Em 1997 foi morar fora, conheceu mais pessoas, terminou o namoro, começou outro, num jogo de xadrez onde as jogadas se repetiam constantemente, mas o xeque-mate nunca chegava.
Mas, num belo dia - só para usar um trocadilho batido - Andréia foi parar na capital mais famosa do mundo. E lá os sonhos de menina passaram como de relance em seu globo ocular, e os altos prédios de Manhattan pareciam cada vez mais reais nas possibilidades dessa ‘empreendedora’, como ela gosta de se definir. Ela não exagera. O primeiro apartamento que ela comprou em Nova York custou apenas US$ 1 milhão de dólares. Fica até difícil entender como as leis americanas dão espaço para que um estrangeiro ilegal, ainda por cima latino-americano, compre um apartamento nesse valor. Ela o revendeu por US$ 1,6 milhão. Isso que é ter espírito empreendedor e tino para os negócios. Em entrevista concedida para alguns veículos de comunicação, a excêntrica Andréia disse que sua coleção de sapatos, bolsas e vestidos consumiu US$ 200 mil.
Vivendo ilegalmente em Nova York, mas morando bem e com uma teia diversificada de contatos, Andréia começou a se envolver com negócios obscuros. Segundo a imprensa americana, Andréia trabalhou como prostituta de luxo no Emperors Club Vip e depois montou a própria rede em seu apartamento. Lá, a polícia encontrou 7 gramas de cocaína. Mas ela insistiu e é categórica: “Não sou prostituta nem cafetina”. Ela pode até não ser uma sirigaita, marafona, dissoluta e ardilosa, mas também não deve ser flor dos mais belos jardins.
As más e boas línguas dizem que ela agenciava encontros do ex-governador de Nova York com prostitutas de luxo, em programas que custavam US$ 4 mil por cada hora. Presa e solta, ela afirmou que não foi favorecida com a delação premiada, que ocorre quando um condenado ajuda as autoridades com informações importantes em algum caso, em troca de relaxamento de pena. Se ela ajudou ou não o FBI nas investigações isso só ela própria e a polícia americana sabem.
Durante os anos em que morou nos EUA, Andréia freqüentou os mesmos eventos por onde circulavam pessoas ilustres como o ator Bruce Willis, a cantora Beyoncé e políticos influentes. Por causa da ambição desmedida, hoje, ao invés de usar sua coleção de relógios caros, como um autêntico Rolex, ela precisa ver as horas em um relógio Dumont emprestado pela mãe. Seu apartamento na cobiçada Ilha de Manhattan foi seqüestrado pelo governo americano, assim como os outros bens que possuía na terra do Tio Sam. Aqui no Brasil, nem casa própria tem. Na casa da família ela não fica. Prefere ficar escondida na casa dos amigos para ficar distante da imprensa, inclusive da internacional. Ela está podendo. É a celebridade do momento. Agora só falta ela se inscrever no BBB9 como modelo, miss ou dançarina, e assim projetar de vez nosso Estado. Mais uma vez como patinho feio. As Organizações Globo agradecem.

quinta-feira, 13 de março de 2008

O CÉU ESTÁ NO LIMITE


Por Joannes Lemos

Mês de março, feriadão da Semana Santa à vista. O que isso quer dizer? Centenas de milhares de pessoas vão pegar as estradas para visitar seus parentes e amigos, em mais um típico enforca-estica-e-puxa dos nossos feriadões. Mas feriadão no Brasil também é sinônimo de aeroportos cheios, e como conseqüência dor de cabeça para quem vai viajar. Pobre coitado de quem ficar por longos períodos de espera na fila do check in. Aliás, pobre não, porque a política econômica de Lula ainda não foi capaz de dar oportunidade para que os menos favorecidos do nosso país pudessem viajar de avião, apesar de que nunca antes na história deste país tantas pessoas pegaram a ponte aérea.
O fato é que os passageiros do nosso sistema aéreo não deveriam se preocupar apenas com os atrasos nos aeroportos. Antes fosse só isso. Afinal, um pouco de impaciência não mata ninguém. Mas infelizmente avião que cai mata, e como mata. E problemas de equipamentos podem provocar acidentes, e como podem. E controladores de vôo super-estressados também podem provocar acidentes – e a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. Passados oito meses do maior acidente aéreo brasileiro, com o avião da TAM, em julho passado em São Paulo, tudo parece estar na mais absoluta paz. Afinal de contas, nunca antes na história deste país nossas reservas cambiais estiveram tão polpudas. O problema é que ainda continuam acontecendo muitos quase acidentes que poderiam e podem virar uma nova tragédia. Documentos inéditos da Aeronáutica divulgados pela edição 506 da revista Época revelam situações de alto risco de acidentes no espaço aéreo brasileiro. A descrição de um quase acidente pode ser conferida a seguir:
“No dia 12 de junho do ano passado, o airbus 319 da Presidência da República, conhecido como Aerolula, decolou do Aeroporto Internacional de Guarulhos por volta das 15h30. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participara do 7º Congresso Nacional dos Metalúrgicos da CUT e voltava para Brasília. Toda vez que o avião da Presidência da República liga o motor, o controle de tráfego aéreo redobra a atenção. As distâncias entre as aeronaves são ampliadas e o controlador passa a tratar como prioridade o avião que aparece na tela de controle com a sigla FAB01, o principal avião da frota da Força Aérea Brasileira. Naquele dia não foi diferente. O Aerolula era o centro das atenções. Até que uma pane na sala de controle de Guarulhos apagou três dos quatro consoles, os aparelhos que permitem a visualização das aeronaves. Com apenas um deles funcionando, o controlador responsável pela segurança da aeronave presidencial passou a monitorar também outros 13 aviões. Naquele instante, um Boeing 777 da Alitalia, prefixo AZA677, que decolara de Guarulhos rumo à Itália, se aproximava rapidamente de um avião bimotor particular prefixo PT LYZ. Havia alto risco de colisão. O controlador de vôo, percebendo a possibilidade do acidente, desviou a trajetória do avião italiano. Mas, como a rota das duas aeronaves previa uma curva logo adiante, o desvio determinado acabou jogando uma aeronave contra a outra. Apenas 30 metros separaram a barriga do avião da Alitalia do teto do bimotor. Parece uma distância longa. Para aviões a uma velocidade média de 900 km/h, não é. A margem mínima de segurança, determinada por padrões internacionais, é 300 metros”.
Por pouco o presidente Lula assiste de camarote a mais um acidente aéreo, mais um para o currículo da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Quando entrou em cena para tentar resolver a batata quente, Nelson Jobim, ministro da Defesa, disse: “Aja ou saia, faça ou vá embora”. Passados alguns meses a frente do ministério pouca coisa mudou, como a queda (calma, não é a de outro avião) no número de conexões e escalas no aeroporto de Congonhas. O assunto está esquecido, muito esquecido. Não adianta fazer um movimento como o Cansei. É preciso fazer vários movimentos desse tipo. Precisamos lembrar aos brasileiros o que aconteceu, já que somos uma nação que esquece com facilidade das coisas que aconteceram ontem. Afinal, depois de votar inúmeras vezes pro Marcelo sair do BBB as pessoas só poderiam mesmo ficar alienadas.
A impressão que fica é que escândalos políticos vêm e vão para fazer esquecer dos problemas mais sérios. O cartão da tapioca deu o que falar, mas uma CPI dos Cartões Corporativos só vai dar em pizza, pra variar. Está na hora de Brasília se mexer, inclusive o Lula.
Por falar em Brasília, o aeroporto de lá é o campeão de atrasos no mundo. Coitado dos candangos...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

EU PAGO, TU PAGAS, ELES NÃO PAGAM


Por Joannes Lemos

O Brasil certamente é o país do paradoxo. Diferenças de todo tipo você encontra aqui mesmo, na república das bananas. Diferenças econômicas, políticas, raciais, ideológicas e outras mais estão inseridas em nosso cotidiano, mesmo porque estamos em um país de dimensões continentais. Tais diferenças devem ser tratadas com cuidado para que todos convivam em um ambiente de respeito mútuo.
Mas certas diferenças não podemos aceitar, e muitos menos compreender. Enquanto muitas famílias fazem malabarismos para passar um mês apertado com pouco mais de R$ 100 do programa Bolsa-Família, funcionários do alto e baixo escalão do governo federal fazem a festa usando e abusando dos cartões corporativos que o governo distribui entre alguns de seus funcionários. E mais uma vez nós contribuintes vamos bancar essa exorbitância.
Ao mesmo tempo em que muitas famílias espalhadas pelos mais inóspitos rincões do Brasil se preocupam em encher a sacola com arroz e feijão – e para muitos, graças ao programa de distribuição de renda do governo – funcionários da administração federal parecem, mais preocupados ainda, em usufruir das benesses do maravilhoso cartão Ourocard Corporate Gold Visa. E na lista de mimos não existe feijão nem arroz. Que tal gastar R$ 99,44 na padaria Belini, uma das mais sofisticadas de Brasília? Achou pouco? Então que tal comprar R$ 3.762,40 em carnes numa butique de carnes de Brasília, compra esta feita pela Secretaria de Administração da Presidência. Preste atenção porque a compra foi feita em uma butique de carnes, não em um açougue qualquer. Está tudo no Portal da Transparência (
www.portaltransparencia.gov.br).
Já o ministro do Esporte, Orlando Silva, usou o cartão para pagar diárias de hotel no Rio de Janeiro num fim de semana, não apenas para ele, mas para toda a família, incluindo a babá, num total de R$ 2.791. Ele não estaria fazendo nada de errado se o cartão estivesse pagando diárias de hotel apenas para ele em viagens de trabalho. Assim foram sendo criados os abusos com o cartão corporativo do governo federal, uma ferramenta existente em muitos países para facilitar a fiscalização, mas que vêm dando mais dor de cabeça à Controladoria-Geral da União (CGU) e ao Tribunal de Contas da União (TCU), encarregados de investigar os maus gastos. O sistema é mais fácil de controlar do que as notas fiscais usadas para comprovar despesas, já que as notas fiscais são fáceis de falsificar, ao contrário das faturas do cartão de crédito. O problema é que a fatura do cartão não designa o produto consumido, apenas o local da compra. Mas isso não representa um grande obstáculo para descobrir os abusos. Foi assim que caiu Matilde Ribeiro, ex-ministra da Igualdade Racial, de um dos 200 ministérios do governo Lula. Ela gastou R$ 416,16 em uma loja de produtos importados em um aeroporto. Disse que fez confusão e pagou com o cartão errado. Mas a mesma ex-ministra gastou R$ 121.900 em uma locadora de automóveis. Dúvida? Está tudo no Portal da Transparência. É um pouco trabalhoso procurar, mas vale a pena.
Assim, só em 2007, foram gastos R$ 78 milhões com o uso do cartão pelos funcionários do governo federal. É muito, mas está abaixo dos R$ 108,3 milhões gastos pelo governo de São Paulo com seu cartão versão estadual. Ainda por cima, o estado paulista não divulga os gastos na internet como o governo federal. Uma prática desleal num período em que o corte de gastos públicos e o enxugamento da máquina administrativa está em pauta. Não podemos e nem temos o direito de alçar o cartão corporativo como o vilão da história. A culpa está na falta de honradez de quem faz uso desse benefício – e que benefício – do governo federal. Vamos esperar para ver se uma outra desgastada CPI, dessa vez dos cartões corporativos, trará algum resultado, efeito raro em se tratando de CPI.
Enquanto isso, nos armarinhos, mercearias e mercadinhos de pontos humildes do Brasil, ou seja, em tudo quanto é lugar, os Josés, Marias e Pedros fazem o que podem para levar para suas respectivas mesas o feijão, arroz, batata, pão, leite...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

ELES USAM BLACK TIE



Por Joannes Lemos

"Meu nome não é Johnny, meu nome é João. Não sou bandido, não sou nenhum Pablo Escobar, não tenho quadrilha, não tenho fortaleza, não tenho dinheiro na Suíça. Se eu fosse tão poderoso assim, minha família não ia estar vendendo o único imóvel para pagar a minha defesa. Eu usava droga, vendia, ia usando, ia vendendo...”
Certamente essa é uma das cenas que mais emocionam no longa Meu Nome Não é Johnny (Brasil, 2008, 107 min.), dirigido por Mauro Lima e adaptado do livro homônimo do jornalista Guilherme Fiúza. Literalmente incorporando João Guilherme Estrella, o Johnny do título, o ator Selton Mello dá um banho de interpretação na pele de um dos maiores fornecedores de cocaína do Rio de Janeiro do final dos anos 80. Em foco, o tráfico de drogas.
Muita gente pode considerar a abordagem desgastada, mesmo porque filmes recentes, inclusive de muito sucesso, tiveram a mesma temática como pano de fundo. Caso de Tropa de Elite. No entanto, Meu Nome Não é Johnny mostra um outro lado do tráfico, aquele encabeçado por jovens de classe média que fazem as vezes de traficante, filhos de famílias abastadas, com boa educação, inglês e espanhol no currículo, viagens à Disney e com roupinhas de grife no closet.
Apesar de se passar entre os anos 80 e 90, o filme de Mauro Lima não poderia ser lançado em um momento mais oportuno. Cresce cada vez mais o envolvimento de jovens de classe média e alta nos negócios ilícitos do dinheiro fácil. Vendendo uma ‘balinha’ aqui e ali, esses jovens inicialmente fazem negócios apenas com amigos. Mas, ao perceberem que o ramo rende uns bons trocados sem muito esforço, a minguada mesada dos pais parece não ser mais suficiente para atender aos desejos de consumo. Em novembro passado – só para ficar em um exemplo, pois são muitos – foi presa Jéssica de Albuquerque Corrêa, de 18 anos. Filha da classe média carioca, ela foi presa com outros 10 jovens da mesma situação econômica. A acusação: tráfico de ecstasy.
Esse é um outro problema das baladas do século XXI. Por ser uma droga sintética, os baladeiros de plantão acreditam que o ecstasy não faz tanto mal como cocaína e heroína, mesmo porque a dócil balinha tem um aspecto de comprimido. O ecstasy provoca efeitos alucinógenos que deixa o usuário mais comunicativo, promovendo taquicardia, falência hepática aguda do fígado, lesões cerebrais, entre muitos outros problemas. Com apenas um comprimido é possível ter uma overdose.
Sem querer entrar muito nos deméritos do ecstasy e voltando aos méritos do filme de Mauro Lima, Meu Nome Não é Johnny vai além da bela fotografia opaca de Ulrich Burtin, que confere ao filme o ar denso e dramático do submundo do crime. Vai além das belas imagens do passeio de gôndola feito por João (Selton) e Sofia (Cléo Pires) em Veneza, que confere ao filme um visual chique. Vai além das cenas maniqueístas de João na prisão, que mistura momentos de tensão e humor. Aliás, as únicas cenas de humor do filme acontecem nesse cenário.
Mas a obra baseada na vida de João Guilherme Estrella não tem a pretensão de ser uma comédia pastelão típica dos roteiristas sem noção. Sem fazer qualquer julgamento dos personagens envolvidos na história, o mais importante é saber que o filme alcança seu objetivo, que é o de mostrar, mais uma vez, que o mundo sujo e virulento das drogas, com sua falsa promessa de dinheiro eternamente fácil, definitivamente não vale a pena.

sábado, 12 de janeiro de 2008

NOSSO RICO DINHEIRINHO

Por Joannes Lemos
O ano de 2007 terminava e os brasileiros de todas as classes sociais comemoravam em coro, afinal teríamos um imposto a menos para pagar com a extinção mais que bem-vinda da CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – um imposto teoricamente provisório que parecia ter se metamorfoseado em eterno há muitas e muitas arrecadações atrás.
Com o fim desse tributo, o governo deixaria de arrecadar cerca de R$ 40 bilhões por ano, de um total de R$ 680 bilhões que o governo arrecadou em 2007, representando 36% de todas as riquezas que o Brasil gerou no ano que terminou, o famoso PIB, que ficou na casa de R$ 1,8 trilhão. E a proporção não bate, porque temos o 8º PIB do mundo, e a segunda maior carga tributária sobre salários do planeta, perdendo apenas para a Dinamarca.
Apesar da derrota histórica do governo no Congresso, tirando da mesa dos tributos um prato portentoso, a equipe econômica de Lulinha Paz e Amor disse aos quatros ventos que o país iria se adequar com a perda da CPMF, com a promessa de cortar gastos públicos para recuperar parte do dinheiro que não mais seria arrecadado – entrando aí possíveis cortes no PAC – mas sem elevar ou criar outros impostos. Aliado a isso, os economistas avaliam que em 2008 o governo arrecadará mais com o crescimento da economia (cerca de R$ 10 bilhões a mais) o que ajudaria a tapar o buraco deixado pelo Imposto do Cheque.
Mas como tudo nessa vida muda, inclusive o projeto gráfico de A Gazeta, porque o governo não poderia mudar de opinião também? Pois é, com o brilho dos fogos de artifício da virada do ano a trupe do planalto teve lampejos súbitos, e decidiu anunciar novas medidas para compensar a perda da famigerada CPMF. Além do já anunciado corte de gastos públicos, que muitos duvidam que aconteça de fato, a galera de Brasília anunciou novos aumentos em dois impostos. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), cobrado nas operações de crédito e de câmbio de pessoas físicas e empresas, que subiu 0,38 %, e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), cobrada sobre o lucro dos bancos e empresas, que subiu de 9% para 15%. Com essa medida, o governo pretende arrecadar mais R$ 10 bilhões.
O fato é que Lula e sua equipe não se entendem e não sabem o que falam. No dia 16 de dezembro Lula disse à imprensa: “Não existe razão para que alguém faça alguma loucura de tentar aumentar a carga tributária”. Mas como até papagaio fala, no dia 20 do mesmo mês Lula disse:
“Não quero ouvir a palavra pacote. Claro que, se precisar, podemos ter medidas administrativas”.
Acontece que a singela medida administrativa do governo provoca uma pequena ferida em nosso bolso, assim como a finada CPMF, que agora parece reencarnar em outras contribuições. E o que tanto queremos e pedimos não acontece: a discussão sobre a reforma tributária, tão necessária para um país que não consegue crescer mais do que 5% ao ano devido ao peso dos tributos.
Como se não bastasse, o Ministro da Fazenda, Ilustríssimo Senhor Guido Mantega, soltou a pérola – ou será provocação? : “O compromisso do presidente Lula era não promover alta de impostos em 2007. E de fato não fez. Estamos fazendo em 2008”.
Dormiremos com essa. E que venham mais fogos de artifício.