sexta-feira, 9 de maio de 2008

QUEM É O MAIS COITADO?


Por Joannes Lemos

A raça humana parece mesmo ter perdido a noção de solidariedade, humanidade, reciprocidade. Amor então nem se fala. Não vai demorar para os inventores de plantão criar uma espécie de amormômetro(termo criado aqui), para medir a intensidade de amor que existe em cada um. Os valores bons vão embora, e os sentimentos de ira, raiva, ódio, esses se impregnam cada vez mais em nosso cotidiano.
A mistura de sentimentos bons que ainda nos restam, junto com os sentimentos ruins que pipocam pela humanidade, se misturam com outros sentimentos que ficam em cima do muro. Com a mais recente tragi-novela brasileira – que estreou no dia 29 de março – sem data prevista para acabar, o sentimento de pena ficou ainda mais evidente. Pela definição, coitado quer dizer desgraçado, infeliz, mísero. Ou seja: Pobre dele, ou dela. Mas, com toda reviravolta do caso Isabella Nardoni, impiedosamente assassinada, a pergunta que fica é: Coitado de quem?
Coitadinha da menina Isabella, um brotinho que teria uma longa vida pela frente, se não fosse submetida à brutalidade de pessoas insanas, tendo a vida interrompida precocemente?
Coitados de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, duas pessoas que deveriam privar pela segurança da menina, e, acredita-se, são os mal-feitores que liquidaram a vida da criança?Coitada da imprensa, que desesperada por uns pontos a mais na audiência, uma vendagem a mais de jornais e revistas, e uns cliques a mais nos sites informativos, mobilizam dúzias de equipes de jornalistas para a fatídica cobertura jornalística?
Coitados dos jornalistas, que na obrigação de atender aos anseios e mandos dos patrões, acabam se engalfinhando pelo melhor ângulo de câmera, pela melhor fonte, pela melhor foto, pelo grande furo do capítulo do dia?
Coitada da Sonião Abrão, que passa horas à fio a frente de um programa vazio, sensacionalista, fazendo a cobertura do calvário de uma família?
Coitado do Lula, que vê o espaço que poderia ser dedicado aos bons momentos de seu governo perdido para o sensacionalismo?
São muitos coitados e muitos sofredores, numa lista que se presume longa. Fica até difícil saber quem é o mais coitado. A Sonia Abrão certamente não é. O programa dela é descartável, hipócrita, sujo. Ela faz aquilo porque gosta. Vive da carnificina alheia. É o urubu em forma de pessoa fútil. Vergonhoso dizer que é feito por profissionais de comunicação.
Alexandre Nardoni e Anna Jatobá até tentaram se fazer passar por infelizes em uma entrevista exclusiva. Mostraram-se bons atores e deixaram outras emissoras de televisão com sentimento de coitadinhas, frente ao furo da Globo. Todas as emissoras só pensam, no atual momento, em seguir, perseguir ou conquistar, custe o que custar, o caminho da liderança. Mesmo que a audiência a mais conquistada ultimamente não se traduza em faturamento maior.
O Lula também não é o mais coitado. Se por um lado as pessoas esquecem que seu governo anda de vento em polpa, por outro também nem lembram do escândalo dos cartões, da máfia das sanguessugas, dos mensaleiros (por onde andam?), da mancada da mãe do PAC...
Existem outros quase coitados: a menina Isabella sofreu antes de morrer, sentiu dor, agonizou nos últimos momentos de uma breve vida, numa situação dantesca que nenhum ser humano merece passar. E ainda por cima a memória que fica dela é de uma criança que morreu brutalmente. Ela precisa descansar em paz. Mas hoje ela está em um lugar muito melhor do que o nosso. Pelo menos ela teve a oportunidade de não se misturar com as sujeiras a que todos somos submetidos e apresentados na medida que crescemos. Certamente ela será um lindo anjo, mesmo que muitas pessoas não acreditem em céu e em seres superiores. Deus está olhando por ela.
Enquanto isso, aqui embaixo, coitados dos jornalistas e da nossa imprensa. Parece que a cada dia perdem mais o rumo da sensatez, já que tudo é motivo de banalização, fruto da sociedade do espetáculo cada vez mais mergulhada na vulgaridade.
A bem da verdade, somos todos coitados. Apesar de sermos rotulados como os únicos seres racionais, não aprendemos ainda a controlar nossos impulsos. Parece que agimos apenas por instinto. Não aprendemos a usar a balança, onde sentimentos bons devem pesar mais que os sentimentos ruins. E o pior é que ainda nem sabemos como classificar o sentimento de pena. Nós somos os mais coitados!!