sexta-feira, 14 de setembro de 2007

GANHOU A DEMOCRACIA?

Por Joannes Lemos

Em mais uma manobra no planalto central, a decisão sobre a permanência de Renan Calheiros (PMDB-AL) na presidência do senado acabou em uma retumbante pizza. E essa teve um sabor bem amargo. Como virou de praxe em nossa política, grandes escândalos de proporções tsunâmicas causam grandes estragos na imagem do país, mas deixam ilesos os protagonistas das vergonhosas calamidades.
Assim, mais uma vez – e como infelizmente virou rotina no cenário nacional – o nome da instituição brasileira – Senado, Congresso, Brasília, Câmara Federal, Palácio do Planalto – enfim, tudo que lembra os alicerces do nosso poder, teve o nome achincalhado e jogado na lama. Os jornais e telejornais brasileiros dedicaram boa parte do espaço e tomaram boa parte da nossa paciência com esse escândalo, que por mais de 110 dias entrava nos aparelhos de TV de nossas salas, nas ondas sonoras dos nossos aparelhos de rádio e nas telas planas e semi-planas de nossos computadores pessoais ou do trabalho. Mas isso era mais do que necessário, pois não poderíamos ficar alienados de mais uma vergonha da nossa política.
E depois do resultado dessa pizza - que é bem redondinha, mas vai descer quadrada garganta abaixo – os veículos de comunicação do exterior também repercutiram o assunto, mostrando às outras nações de primeiro e terceiro mundo detalhes da nação de quinto mundo. Veículos de informação conceituados como The New York Times e El Pais deram notas de destaque sobre o caso. Membros da transparência internacional observam essa repercussão como um fator altamente prejudicial à imagem do Brasil.
Isso já era de se esperar. Infelizmente os mandatários dessa balbúrdia estão passando a quilômetros de distância de se preocupar com a boa imagem do nosso país. O que não pode acontecer mais uma vez é a população cruzar os braços, e novamente se conformar, já que a impunidade aos donos do poder e aos mais abastados da nossa sociedade é rotina. Já virou costume também dizer sempre a mesma ‘ladainha’: vamos escolher melhor nossos representantes nas próximas eleições...etc e tal. O pior dessa regra é que está cada vez mais complicado escolher alguém decente. Exceções à parte, essa é a realidade.
O que mais dói nos nossos olhos e ouvidos, depois de todas as manobras políticas na votação do dia 12 de setembro, é ver e ouvir um senador que acabou de sair da forca, com a cara mais deslavada do mundo, polida com óleo de peroba, dizer que ganhou a democracia (???) na votação secreta. Será que algum dia Renan Calheiros entrou em uma sala de aula e estudou os princípios da política? Será que ele já ouviu falar naquele livrinho que contém tudo sobre a Constituição Brasileira de 1988?
Está claro que a resposta é não. Temos que torcer, ou melhor, temos que fazer acontecer para que tipos como esses - não apenas o Calheiros - sejam extirpados da vida pública brasileira.