quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

ELES USAM BLACK TIE



Por Joannes Lemos

"Meu nome não é Johnny, meu nome é João. Não sou bandido, não sou nenhum Pablo Escobar, não tenho quadrilha, não tenho fortaleza, não tenho dinheiro na Suíça. Se eu fosse tão poderoso assim, minha família não ia estar vendendo o único imóvel para pagar a minha defesa. Eu usava droga, vendia, ia usando, ia vendendo...”
Certamente essa é uma das cenas que mais emocionam no longa Meu Nome Não é Johnny (Brasil, 2008, 107 min.), dirigido por Mauro Lima e adaptado do livro homônimo do jornalista Guilherme Fiúza. Literalmente incorporando João Guilherme Estrella, o Johnny do título, o ator Selton Mello dá um banho de interpretação na pele de um dos maiores fornecedores de cocaína do Rio de Janeiro do final dos anos 80. Em foco, o tráfico de drogas.
Muita gente pode considerar a abordagem desgastada, mesmo porque filmes recentes, inclusive de muito sucesso, tiveram a mesma temática como pano de fundo. Caso de Tropa de Elite. No entanto, Meu Nome Não é Johnny mostra um outro lado do tráfico, aquele encabeçado por jovens de classe média que fazem as vezes de traficante, filhos de famílias abastadas, com boa educação, inglês e espanhol no currículo, viagens à Disney e com roupinhas de grife no closet.
Apesar de se passar entre os anos 80 e 90, o filme de Mauro Lima não poderia ser lançado em um momento mais oportuno. Cresce cada vez mais o envolvimento de jovens de classe média e alta nos negócios ilícitos do dinheiro fácil. Vendendo uma ‘balinha’ aqui e ali, esses jovens inicialmente fazem negócios apenas com amigos. Mas, ao perceberem que o ramo rende uns bons trocados sem muito esforço, a minguada mesada dos pais parece não ser mais suficiente para atender aos desejos de consumo. Em novembro passado – só para ficar em um exemplo, pois são muitos – foi presa Jéssica de Albuquerque Corrêa, de 18 anos. Filha da classe média carioca, ela foi presa com outros 10 jovens da mesma situação econômica. A acusação: tráfico de ecstasy.
Esse é um outro problema das baladas do século XXI. Por ser uma droga sintética, os baladeiros de plantão acreditam que o ecstasy não faz tanto mal como cocaína e heroína, mesmo porque a dócil balinha tem um aspecto de comprimido. O ecstasy provoca efeitos alucinógenos que deixa o usuário mais comunicativo, promovendo taquicardia, falência hepática aguda do fígado, lesões cerebrais, entre muitos outros problemas. Com apenas um comprimido é possível ter uma overdose.
Sem querer entrar muito nos deméritos do ecstasy e voltando aos méritos do filme de Mauro Lima, Meu Nome Não é Johnny vai além da bela fotografia opaca de Ulrich Burtin, que confere ao filme o ar denso e dramático do submundo do crime. Vai além das belas imagens do passeio de gôndola feito por João (Selton) e Sofia (Cléo Pires) em Veneza, que confere ao filme um visual chique. Vai além das cenas maniqueístas de João na prisão, que mistura momentos de tensão e humor. Aliás, as únicas cenas de humor do filme acontecem nesse cenário.
Mas a obra baseada na vida de João Guilherme Estrella não tem a pretensão de ser uma comédia pastelão típica dos roteiristas sem noção. Sem fazer qualquer julgamento dos personagens envolvidos na história, o mais importante é saber que o filme alcança seu objetivo, que é o de mostrar, mais uma vez, que o mundo sujo e virulento das drogas, com sua falsa promessa de dinheiro eternamente fácil, definitivamente não vale a pena.

sábado, 12 de janeiro de 2008

NOSSO RICO DINHEIRINHO

Por Joannes Lemos
O ano de 2007 terminava e os brasileiros de todas as classes sociais comemoravam em coro, afinal teríamos um imposto a menos para pagar com a extinção mais que bem-vinda da CPMF – Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira – um imposto teoricamente provisório que parecia ter se metamorfoseado em eterno há muitas e muitas arrecadações atrás.
Com o fim desse tributo, o governo deixaria de arrecadar cerca de R$ 40 bilhões por ano, de um total de R$ 680 bilhões que o governo arrecadou em 2007, representando 36% de todas as riquezas que o Brasil gerou no ano que terminou, o famoso PIB, que ficou na casa de R$ 1,8 trilhão. E a proporção não bate, porque temos o 8º PIB do mundo, e a segunda maior carga tributária sobre salários do planeta, perdendo apenas para a Dinamarca.
Apesar da derrota histórica do governo no Congresso, tirando da mesa dos tributos um prato portentoso, a equipe econômica de Lulinha Paz e Amor disse aos quatros ventos que o país iria se adequar com a perda da CPMF, com a promessa de cortar gastos públicos para recuperar parte do dinheiro que não mais seria arrecadado – entrando aí possíveis cortes no PAC – mas sem elevar ou criar outros impostos. Aliado a isso, os economistas avaliam que em 2008 o governo arrecadará mais com o crescimento da economia (cerca de R$ 10 bilhões a mais) o que ajudaria a tapar o buraco deixado pelo Imposto do Cheque.
Mas como tudo nessa vida muda, inclusive o projeto gráfico de A Gazeta, porque o governo não poderia mudar de opinião também? Pois é, com o brilho dos fogos de artifício da virada do ano a trupe do planalto teve lampejos súbitos, e decidiu anunciar novas medidas para compensar a perda da famigerada CPMF. Além do já anunciado corte de gastos públicos, que muitos duvidam que aconteça de fato, a galera de Brasília anunciou novos aumentos em dois impostos. O Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), cobrado nas operações de crédito e de câmbio de pessoas físicas e empresas, que subiu 0,38 %, e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), cobrada sobre o lucro dos bancos e empresas, que subiu de 9% para 15%. Com essa medida, o governo pretende arrecadar mais R$ 10 bilhões.
O fato é que Lula e sua equipe não se entendem e não sabem o que falam. No dia 16 de dezembro Lula disse à imprensa: “Não existe razão para que alguém faça alguma loucura de tentar aumentar a carga tributária”. Mas como até papagaio fala, no dia 20 do mesmo mês Lula disse:
“Não quero ouvir a palavra pacote. Claro que, se precisar, podemos ter medidas administrativas”.
Acontece que a singela medida administrativa do governo provoca uma pequena ferida em nosso bolso, assim como a finada CPMF, que agora parece reencarnar em outras contribuições. E o que tanto queremos e pedimos não acontece: a discussão sobre a reforma tributária, tão necessária para um país que não consegue crescer mais do que 5% ao ano devido ao peso dos tributos.
Como se não bastasse, o Ministro da Fazenda, Ilustríssimo Senhor Guido Mantega, soltou a pérola – ou será provocação? : “O compromisso do presidente Lula era não promover alta de impostos em 2007. E de fato não fez. Estamos fazendo em 2008”.
Dormiremos com essa. E que venham mais fogos de artifício.