terça-feira, 19 de agosto de 2008

BATE NO PEITO


Por Joannes Lemos

Os jogos olímpicos estão de vento em popa. Medalhas tilintando no peito dos competidores, alçados ao posto de heróis. Tal classificação não é exagero. Chegar aos jogos da China não parece ter sido fácil, e mais difícil ainda tem sido conseguir um lugar mais alto no pódio. Nessas olimpíadas vemos uma inversão no topo do quadro de medalhas. Os esnobes norte-americanos, outrora líderes isolados no ranking de medalhas do começo ao fim dos jogos, agora precisam se conformar com um segundo lugar. Uma posição invejável, mas que para eles está descendo garganta abaixo como um sapo seco. E os chineses exibem suas medalhas que batem no peito.
A paisagem de Pequim talvez não seja a mais inspiradora como forma de alcançar uma boa conquista esportiva. A capital chinesa, mergulhada no conformismo bilateral comunismo-capitalismo se esforçou para mostrar ao mundo a maior competição olímpica de todos os tempos. A nuvem escura de gases e todos os tipos de poluentes estão por todo lado. Pequim não tem uma paisagem natural, tudo lá soa bem artificial. Construções monumentais e improváveis dão o tom do que o mundo pode esperar da futura superpotência mundial: o Aeroporto Internacional que lembra um dragão; o Estádio Nacional, vulgo Ninho do Pássaro; e o Centro Aquático, conhecido como Cubo d’Água possuem formas tão inacreditáveis que por um instante esquecemos que se trata de um país com 1,3 bilhão de habitantes, e que nada menos do que 800 milhões de pessoas de olhinhos puxados vivem abaixo da linha da pobreza.
Tudo parece ainda mais surreal quando observamos uma construção apelidada de Calças: a sede da poderosa emissora de televisão estatal CCTV (Central Chinesa de Televisão), onde duas torres inclinadas, parecendo querer cair, se apóiam uma na outra. Uma semelhança com o povo chinês: apesar das tristes histórias das pessoas que vivem no interior, inclusive das vítimas do recente terremoto na região central do país, todos se apóiam em nome do nacionalismo chinês.
As cifras desprendidas pelo governo chinês nesses jogos impressionam. Os mais de US$ 40 bilhões é dinheiro suficiente para matar a fome de muitos cidadãos chineses. Mas não foi suficiente para impressionar a delegação brasileira. Ainda continuamos com muitos representantes em várias modalidades, mas ainda com pouquíssimos resultados. De quem é a culpa? É óbvio dizer que é do poder público, que pouco investe na prática de esportes como uma prioridade das políticas públicas.
Mas a sociedade também pode colaborar, exigindo e fazendo parcerias para que a educação física das escolas seja levada mais a sério, e que centros esportivos possam ser mais bem planejados para não excluir ninguém. Enquanto investimentos dessa ordem custam a sair do papel em terras brasileiras, vemos nosso país ficar atrás de Jamaica, Etiópia e Quênia no quadro parcial de medalhas. Não que essas nações não sejam merecedoras, mas nós, por sermos emergentes na economia, também poderíamos começar a pensar em ser emergentes no esporte também. É uma emergência que vem a calhar. Um motivo para, enfim, batermos no peito.