quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

CINE MILÊNIO - Nº 4

Água na boca e nos olhos
Por Joannes Lemos
O hábito de ir ao cinema é, sem sombra de dúvidas, gratificante e prazeroso. No escurinho do cinema, o espectador pode rir, chorar, se emocionar, ficar com raiva e trazer à tona vários outros sentimentos. E é claro, ir ao cinema com freqüência é uma ferramenta importante para adquirir um pouco mais de cultura. Mas é importante frisar que não basta ir a uma sala de exibição só para assistir produções norte-americanas. Os Estados Unidos não são o único país do mundo a produzir a sétima arte. Sabemos que eles são especialistas no assunto. Mas que fique bem claro: lá, filme é visto atualmente mais como um produto tipo exportação do que um produto cultural, apesar de que grandes obras-primas ainda são produzidas por lá.
Precisamos criar o costume de ir às salas de exibição que oferecem filmes de outras nacionalidades. Muitas vezes não fazemos isso por preconceito e por acreditar que as produções cinematográficas de outros países são ruins e de baixa qualidade. Miserável engano. Outros países são capazes de oferecer ao grande público trabalhos magníficos. Podemos destacar a França, a Espanha, a Índia e o Irã, e até mesmo o Brasil, que presenteia o público com produções bem arranjadas como Zuzu Angel, mas que volta e meia escorrega, produzindo títulos como “O Cavalheiro Didi e a Princesa Lili”. Ninguém é perfeito, mesmo ainda existindo público e demanda para este tipo de filme.
A culpa pela falta de exibição de bons filmes não americanos também é dos exibidores. São poucas as salas que exibem filmes do circuito alternativo. É por isso que devemos aplaudir a atitude da Lentes Varilux e da Pandora Filmes, que juntas apresentaram entre os dias 10 de novembro e 21 de dezembro o 5º Festival Varilux de Cinema Francês, que exibiu a cada semana, em duas cidades diferentes, sete filmes franceses. Entre as cidades sortudas que puderam fazer parte do calendário de exibições estava a nossa capital Vitória. Os sete longas foram apresentados no Cine Ritz Jardins em Jardim da Penha. Durante seis dias, os cinéfilos como eu puderam acompanhar obras de primeira linha. São elas: A Comédia do Poder; Eu Me Chamo Elisabeth; Paris, Eu Te Amo; Em Direção ao Sul; Você é Tão Bonito; No Calor do Verão e A Cidade Está Tranqüila.
É uma tarefa complicada ao extremo dizer qual destas produções é a melhor, não tem como chegar a uma conclusão desse tipo. Todas sem exceção são de primeira linha. Infelizmente, não tive o privilégio de assistir No Calor do Verão e A Cidade está Tranqüila, mas com certeza, e, segundo a crítica, são obras-primas, assim como as outras.
A Comédia do Poder (2006) fala de poder e corrupção com pitadas de ironia, que o diretor Claude Chabrol soube utilizar na medida certa. A atuação da atriz Isabelle Huppert dispensa comentários, e é capaz de deixar qualquer um embasbacado. Eu Me Chamo Elisabeth (2006), que se passa na década de 1940 no interior da França, é um drama que fala de separação familiar de forma bem leve e meiga, capaz de deixar no final a sensação de ‘que pena que já acabou’. Paris, Eu Te Amo (2006) é uma produção realizada por 23 cineastas de diferentes países, entre eles os brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas. Cada diretor teve 5 minutos para contar uma história que mostrasse uma das faces de Paris, que foi a grande estrela da produção. Este filme também conta com um elenco estelar, entre eles, Juliette Binoche (Chocolate) e Nathalie Portman (V de Vingança). Você é Tão Bonito (2006) é uma comédia romântica graciosa que provoca risos sem necessidade de apelação. E para o fim deixei Em Direção ao Sul (2005), co-produção França-Canadá. A narrativa, uma das que mais gostei, acontece na década de 1970 numa praia paradisíaca do Haiti, onde duas estrangeiras maduras se apaixonam por um nativo de 18 anos, dando origem a uma disputa que envolve sensualidade misturada com carência afetiva.
Com essa rodada de filmes franceses veio junto uma onda de satisfação e prazer por poder assistir obras tão bem produzidas e qualificadas. Ao mesmo tempo em que dava vontade de sorrir, também dava vontade de chorar, pois os olhos enchiam de lágrimas no fim de cada filme, e a boca ficava salivando, querendo mais e mais e mais. E o idioma inglês nem fez falta. Agora, é esperar 2007 chegar e esperar que a sexta edição do festival venha para nossa cidade novamente.

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