domingo, 11 de fevereiro de 2007

TEMA GERAL

Colhemos o que plantamos

Por Joannes Lemos
Nosso planeta está doente. Relatórios divulgados recentemente pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC -, órgão das Nações Unidas, mostra que a Terra está sendo transferida do quarto de observação para a UTI. O causador desse quadro patológico desta senhora são seus próprios filhos. Ao longo de tantos anos, a saúde do planeta foi intensamente atacada por aqueles que deveriam conservá-la. O homem é o principal causador de tanta deterioração, e agora, as conseqüências são inevitáveis.
O aquecimento global é uma realidade triste e obscura, e muito, muito quente. A previsão é de que a temperatura da Terra cresça, na melhor das hipóteses em 1,8ºC, e na pior das hipóteses em 6,4ºC. Mas 3ºC já será considerado aumento suficiente para provocar um caos. O que podemos sentir na pele nos últimos anos, principalmente no Brasil – país com históricos de muito calor – é que a temperatura cresce de fato. E é bom preparar o protetor solar, já que 2007 promete bater todos os recordes de calor.
Mas não é só de calor que os filhos mal-criados da Terra sofrerão. São esperados, com muita preocupação, fortes tempestades, tufões, furacões e ciclones que castigarão vários países caribenhos, asiáticos, europeus e é claro, o todo-poderoso Estados Unidos, um dos países que mais contribuem para o agravamento da situação dantesca, e um dos que menos trabalham para reverter a situação. Em 2004, o mundo acompanhou com apreensão a chegada do primeiro furacão registrado no Atlântico Sul, o Catarina, que atingiu o estado de Santa Catarina com ventos superiores a 120 km/h, e que foi sentido em outros estados, como Rio Grande do Sul e Paraná.
Todas as regiões do Brasil sentirão os efeitos do aquecimento global, seja com maior ou menor intensidade. O nordeste do nosso país mais uma vez será um dos que mais sofrerão as conseqüências. A previsão para a região é totalmente pessimista e desanimadora. O prognóstico do IPCC é de que a região da caatinga poderá desaparecer e se transformar num semi-deserto nas próximas décadas. Milhões de pessoas que dependem da agricultura serão afetadas. Até nisso o aquecimento global é injusto, já que prejudicará principalmente os mais pobres e já sofridos habitantes do nordeste. E o sul e sudeste do Brasil também podem se preparar, porque muita chuva virá, com mais força e em um espaço de tempo muito curto, onde os mais prejudicados também serão, mais uma vez, as classes mais baixas.
Os prejudicados pelo desequilíbrio ecológico também estarão espalhados por outras partes do mundo. Os países que estão abaixo do nível do mar já estão em alerta. Holanda, Bélgica e Bangladesh, entre outros, já podem preparar suas medidas de segurança, já que o nível dos mares, segundo os resultados do IPCC, poderá aumentar entre 18 cm e 59 cm nos próximos anos. As milhares de cidades costeiras espalhadas por todos os continentes poderão ser atingidas pelo avanço do mar. Aqui no Brasil, Vitória, Rio de Janeiro, Florianópolis, São Luis e as outras banhadas pelo Atlântico podem sofrer as conseqüências do derretimento das calotas polares. Novas Venezas surgirão?
Se teremos novos roteiros para fazer passeios de gôndola ainda não é possível afirmar, mas fazer passeios para a Patagônia ou para os Alpes Suíços para uma deliciosa prática de esqui ficará cada vez mais difícil e, diga-se de passagem, antiquado. A massa gelada derrete com mais velocidade a cada ano. Velocidade esta que nem o mais hábil e veloz dos esquiadores é capaz de acompanhar. No Ártico, o gelo desaparecerá totalmente durante os meses do verão na segunda metade do século. Muitas das requintadas geleiras dos Alpes Suíços podem desaparecer até 2037 se atitudes drásticas não forem tomadas. Na Antártica, várias massas imensas de gelo se desprendem do continente em direção ao oceano, derretendo e provocando aumento do nível das águas marítimas.
O colapso está bem claro. Depois dessa pequena lista de tragédias anunciadas – sim, porque as catástrofes que virão são em maior quantidade que essas que mencionei – o que cabe a nós, filhos da Terra, é encontrar uma forma que possa contribuir para amenizar os estragos que, ao longo dos anos, e principalmente depois da Revolução Industrial, colaboraram nas alterações climáticas do mundo. A contribuição para um planeta melhor vai além de reduzir os índices de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera. O uso desnecessário de ar condicionado deve ser controlado, para poupar a preciosa energia e diminuir os gases que o aparelho joga na atmosfera. Usar o transporte público com mais freqüência, já que além de sair mais em conta, quanto menos carros nas ruas, melhor. Assistir ao documentário “Uma Verdade Inconveniente”, do ex-vice-presidente e ex-futuro presidente dos EUA, Al Gore, também ajuda, porque ele nos dá a real dimensão da gravidade da situação, e ainda, o desprezo por parte de alguns ‘donos’ do poder com relação ao agonizante estado da Terra.
Agora, não adianta que os laboratórios farmacêuticos inventem super-fórmulas de protetor solar fator 150 ou 200, ou que casas flutuantes à prova de enchentes sejam vendidas em lojas de departamentos. O que vale é as ONG’s, a população, a direção das grandes indústrias poluidoras e os governantes discutirem e estabelecer a melhor forma de diminuir os estragos provocados. Somente diminuir, pois nem adiantaria mais reduzir as emissões de CO2 à zero. O mal está feito, e as conseqüências dos danos serão sentidas pelos próximos mil anos.
Resta saber se resistiremos por tanto tempo.

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