domingo, 5 de julho de 2009

ELE É O MUNDO, ELE É CRIANÇA

Por Joannes Lemos

Uma vida marcada por altos, baixos e muitas polêmicas. Essa é a fórmula básica de uma super-estrela. Michael Jackson não poderia fugir deste padrão, afinal, ele era uma mega-estrela. E tal condição requer todos os holofotes em sua direção. Nos últimos dias pessoas choram, outras não tiram os olhos da TV e da internet. Outros milhares correm às lojas para comprar um disco do ídolo do pop. Este post tardio foi proposital. Porque a verdade é que existia a necessidade de digerir tudo o que era despejado sobre nossas cabeças. Nunca se ouviu, falou e viu tanto a respeito de uma única pessoa. Verdade seja dita: independente de quem seja, é preciso morrer para ganhar a atenção e solidariedade de todos.

Após receber a atenção de todos quando despontou para a fama, ou depois de lançar clipes inesquecíveis, ou ainda depois dos tristes episódios em que estampou as páginas policiais acusado de assédio, agora Michael Jackson novamente toma conta do cenário. Desta vez, porém, ele é o único que não é espectador. Não sabe e não tem como saber de nada do que falam dele. Não tem noção de que as homenagens dos programas especiais das TVs de todo o mundo e das páginas especiais de sites levaram e ainda levam muita gente às lágrimas. A cobertura incessante em cima de sua morte às vezes deixa dúvidas. Michael Jackson morreu mesmo? A pergunta à dejavu Elvis Presley provavelmente vai povoar a cabeça de muita gente.

Dificilmente um astro consegue mobilizar tanta gente ao redor do mundo. Mas Michael era mesmo multicultural, bem como o vemos no clipe de “Black or White”: um astro dançando com diversas etnias, mostrando que seu trabalho é realmente pop. Falando em clipes, esse é um ponto que marcou a carreira de Jackson. Esse tipo de vídeo foi literalmente popularizado com ele, quando lançou em 1982 o clipe de “Thriller”, considerado sua obra-prima.

O Brasil também conheceu o poder multiculturalista de Michael, quando em 1996 ele gravou por aqui o clipe da música “They don’t care about us”, onde ele dança e mostra o que sabe num vídeo gravado na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, e no Pelourinho, em Salvador, com o pessoal do Olodum. Aliás, um trabalho belíssimo. Curioso é que em um dos trechos desta música Michael pergunta: “Me diga o que aconteceu com minha vida”, algo que talvez ele nunca tenha conseguido responder.

Michael não esquecia de sua origem humilde. Vindo de uma pobre família negra americana, ele logo conhece o estrelato, quando tinha apenas 10 anos. Nessa época ele cantava com mais quatro irmãos no grupo Jackson Five. Depois se lançou em carreira solo e aconteceu o que todo mundo sabe. Mesmo sendo uma grande celebridade, certamente uma das maiores do show business de que já se teve notícia, ele era engajado. Em 1985 idealizou junto com Lionel Richie o projeto “We Are The World”, para a gravação de um LP que tinha como objetivo arrecadar fundos para o combate da fome na África. O single, LP e o clipe renderam cerca de 55 milhões de dólares. Participaram do projeto grandes nomes da música norte-americana, como Ray Charles, Cyndi Lauper, Bob Dylan, Tina Turner, Diana Ross e Stevie Wonder.

“We are the world, we are the children” em tradução livre, “Somos o mundo, somos as crianças”. Michael Jackson parecia mesmo acreditar que seria uma eterna criança. Sempre rodeado por meninos e meninas ele foi capaz até de criar um lugar chamado Neverland (Terra do Nunca). Assim como Peter Pan, notório personagem infantil, Michael tinha o desejo de ser uma eterna criança. E uma estrela que nunca deixaria de brilhar. Sua amizade com crianças levantou suspeitas e ele se viu envolvido num emaranhado de acusações de pedofilia.

O escândalo gerou grandes perdas com indenizações e um grande declínio por causa da queda de popularidade e credibilidade. Os patrocinadores se afastaram e as dívidas aumentaram. O astro do pop se afundou e parecia cada vez mais distante de uma recuperação. A mesma mídia que o colocara no topo agora o atacava ferrenhamente. Nos últimos tempos Michael Jackson parecia estar morto para a mídia. Ninguém mais falava dele, a não ser para bater na tecla de que ele estava arruinado. Agora esse mesmo artista é responsável pelo aumento de audiência de todas as mídias. Um tremendo paradoxo. Uma enorme perda! Uma mente tão genial, tão massacrada e crucificada vai embora cedo demais. Falar de Michael Jackson parece mesmo ser muito fácil. Difícil era ser ele.
Clique AQUI e relembre o clipe de "We Are The World".

sexta-feira, 5 de junho de 2009

AF 447 - IN MEMORIAN

Por Joannes Lemos

Desastres aéreos podem ser evitados. Principalmente quando a falha vem do comando ou de alguma negligência na manutenção. Mas quando se trata de causas naturais as chances de manobras bem sucedidas são quase reduzidas à zero. Foi o que provavelmente aconteceu com o voo AF 447 da Air France na noite do último domingo, 31 de maio.

O resultado do acidente foi a perda de 228 vidas, que, segundo especialistas, dificilmente terão seus corpos resgatados, em decorrência da geografia do local do acidente, em águas profundas do Oceano Atlântico. Assim como aconteceu com o Titanic, os destroços e as vidas que com ele afundaram estão fadados a repousarem nas profundezas do mar. Um triste fim, principalmente para os parentes, impedidos de enterrar os entes queridos.

Como não existe chance de resgate de pessoas vivas – o que é praticamente impossível em se tratando de acidente aéreo em alto-mar – agora o esforço se concentra no resgate da caixa preta do Airbus A 330. Isso seria fundamental para entender o que realmente aconteceu na noite do dia 31 de maio. Só o que se sabe é que o voo enfrentou uma forte tempestade logo que saiu do espaço aéreo brasileiro. O avião passou for nuvens com tempestades assustadoras, as chamadas Cumulus Nimbus. Uma hipótese seria que fortes rajadas de ar causaram uma turbulência violenta, fazendo com que a aeronave perdesse energia. Outra suposição é de que uma intensa chuva de granizo danificou a cabine, com consequente perda de pressurização.

Independente do que tenha acontecido explicações não trarão aquelas 228 pessoas de volta. Quando os passageiros saíram do Brasil os parentes das vítimas esperavam acordar no dia seguinte ávidos por novidades a respeito de Paris, uma das cidades mais bonitas do mundo. Aguardavam por notícias de pessoas que foram curtir a lua-de-mel, fazer um curso, viajar a trabalho, ou que iam para outros países mas que faziam escala na capital francesa. Mas tudo o que viram na TV na manhã da segunda-feira foram notícias alarmantes. E o que observaram no decorrer do dia e da semana não foi nada alentador. E os meios de comunicação exploraram o assunto a exaustão, com direito a recordes de audiência no ano. As tragédias nos atraem mais do que tudo.

Agora não adianta ficar com medo de viajar de avião. Voar ainda continua sendo um dos meios de transportes mais seguros do mundo, por mais que um acidente aéreo dê chances ínfimas de sobrevivência.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

A POPULARIZAÇÃO DAS IMAGENS POR MEIO DAS LENTES FOTOGRÁFICAS

Por Joannes Lemos

A fotografia foi vista por muito tempo como uma arte, e ainda hoje é descrita como tal. E não é para menos, pois o ato da fotografia envolve um verdadeiro ritual, mesmo com o surgimento de inovações ao longo do tempo. Dos equipamentos pesados com rolos de filmes P&B aos modernos equipamentos digitais a fotografia ainda é capaz de despertar deslumbre. A preparação do equipamento, o ato fotográfico, a reprodução do material e o ato de ver como a imagem ficou: tudo isso vem com uma série de significados, que pode variar de sentido e de pessoa para pessoa.

A primeira fotografia oficial de que se tem notícia é datada de 1826, sendo atribuída a Joseph Niépce. Naquele tempo o nobre francês não imaginava o salto que a até então inovadora arte visual daria no tempo. Se hoje qualquer pessoa pode registrar seus mais singelos momentos com uma câmera digital à tira colo, nos tempos de Niépce isso não era tão fácil, a começar pelo tempo de exposição para que a imagem fosse capturada – inimagináveis nos dias corridos de hoje. Além de Niépce outros nomes marcaram o mundo da fotografia, como Daguere e Cartier-Bresson.

Na primeira parte do século XX, antes da 2ª Guerra Mundial, a fotografia esteve presente nos mais diversos contextos, registrando tudo o que podia. Dos momentos trágicos estampados nas poucas fotografias do episódio catastrófico do Titanic, passando pelas agruras dos bombardeios na Europa e do gigante cogumelo levantado após a explosão da bomba atômica de Hiroshima. A fotografia naqueles tempos em que as artes eram mais bem definidas – sem tantas interferências e estilos numa única obra como acontece hoje, que originou a chamada crise de representação – teve papel importante principalmente no sentido de manter viva a memória daqueles que não vivenciaram determinados episódios. Era essa a finalidade e sentido da fotografia, registrando momentos com equipamentos caríssimos e não menos pesados.

Se há muitos anos uma câmera fotográfica era símbolo de conhecimento de uma arte por parte de quem possuía uma dessas máquinas, atualmente ter uma câmera na mão, mesmo que possante, não desperta tanta admiração em quem não a possui – com exceção daqueles que se identificam ou vivem de fotografia. Esse processo de popularização começou primeiro com o barateamento das máquinas fotográficas, facilitando o acesso ao mundo das imagens mesmo por quem antes não sonhava ter uma. Bem mais tarde veio o advento da digitalização, fazendo com que a fotografia e as máquinas caíssem no gosto popular.

Foi na pós-modernidade que a fotografia de fato se depara com seu maior boom, quando em 1990 a Kodak lança a primeira câmera fotográfica digital comercialmente disponível, a DCS 100. De lá pra cá já se vão quase 20 anos, e o significado de tirar uma fotografia se tornou tão popular que é quase banal. É fato que um verdadeiro fotógrafo para ser considerado bom naquilo que faz precisa aperfeiçoar o que tem de melhor. Mas a popularização da imagem através da fotografia deixou muita gente com a sensação de que para fazer boas imagens basta apenas apertar um botão, sem se preocupar com enquadramento, profundidade e composição. Muitos não sabem o que isso significa, outros, no entanto, criaram tanto gosto e empatia com o instrumento que caíram de cabeça na garimpagem das técnicas.

Hoje a imagem de um equipamento fotográfico pode representar vários lances nas cabeças pensantes. Uns notam a profissionalização da arte, outros enxergam um trabalho de fotojornalismo, outros miram seus pensamentos no mundo do glamour. E muitos pensam simplesmente no registro de momentos como a memória de um instante que passou, o que pode trazer à tona sentimentos diversos.

Mesmo com as mudanças distintas que a fotografia experimentou durante décadas, ela se concentra basicamente em interpretar os fatos através das imagens, mesmo que um fotógrafo amador faça isso inconscientemente. E esse gesto pode ser representado não apenas pelo ato de tirar a câmera da bolsa e empulhá-la diante do objeto da imagem, mas atualmente também pela ação de retirar o celular do bolso para registrar momentos simples carregados de sentidos. Mas é importante ressaltar que as referências vão se perdendo no decorrer das mudanças de visual, estilo e função das máquinas.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O MASSACRE DOS PORQUINHOS

Por Joannes Lemos

Não se fala em outra coisa nas últimas semanas. E todo o mundo fica preocupado com as proporções da “nova praga mundial”: a gripe suína. A doença, classificada como Gripe A, codinome H1N1, é transmitida de pessoa a pessoa principalmente por meio da tosse ou espirro e de contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas. Até a publicação desse artigo, eram contabilizados pela OMS (Organização Mundial de Saúde) 5.728 casos de infectados pela gripe suína em 33 países. No relatório estavam incluídas 61 mortes.

Não dá para ficar alheio em relação aos desdobramentos do novo subtipo da gripe. Um dos países que mais sofre com a doença é o México, por ter sido o epicentro do H1N1. Boa parte dos infectados está nos Estados Unidos, mas a maior quantidade de mortos está na nação mexicana: 56. Espalhando-se rapidamente por outros países, inclusive chegando ao Brasil, é natural que as autoridades, principalmente o Ministério da Saúde, fiquem em alerta.

O que é de praxe mais uma vez acontece, com a exploração e a cobertura quase integral dos jornais, revistas, internet e emissoras de rádio e televisão do Brasil. O que é fácil notar, principalmente no caso das emissoras de TV, é a regra do desespero. Também pudera, pois a ordem parece ser a de colocar pânico e não informar nada.

É óbvio que cuidados precisam ser tomados, principalmente pela facilidade de alastramento que a nova gripe tem. O H1N1, no entanto, não tem a letalidade de epidemias como o ebola, pandemia hemorrágica que assolou a África no final do século passado. Ao contrário, a letalidade da gripe suína ainda é baixa. Os sintomas da doença são parecidos com os da gripe comum, com a diferença de que na nova forma do influenza é possível ter diarreia, vômito e muitas náuseas.

O que se vê em algumas mídias é o percebido desde o início da crise mundial. Com a mais recente tensão econômica a necessidade pela informação aumentou. Os jornais impressos, revertendo uma tendência de queda, passaram a vender mais. As emissoras de televisão contabilizaram aumento nos índices de audiência de seus telejornais.

Agora com a gripe suína a ordem parece ser a mesma. Exceder para chamar a atenção, e despertando mais curiosidade a possibilidade de números maiores é ainda maior. Diversos especialistas são chamados para dar entrevistas e esclarecer dúvidas. Praticamente todos dizem que não há motivo para pânico, e que os maiores efeitos da gripe na população seria que, com excesso de enfermos, a economia seria afetada, com muitos ausentes de seus postos de trabalho, o que geraria retração econômica. Mas a maioria dos profissionais da comunicação tenta colocar lenha na fogueira. Isso é bastante percebido na TV. Com isso tem até pessoas falando que não comerão carne de porco. Informação é sempre bem-vinda, mas o excesso dela às vezes gera confusão e desinformação.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

SEGREGAÇÃO À MODA BRASILEIRA


Por Joannes Lemos
A história já é conhecida por outros exemplos, quando em outras partes do mundo pessoas se viram separadas por meio de um gigante paredão de concreto. Berlim e Palestina tiveram seus muros, que, sabe-se muito bem, vieram com o único propósito de segregar. Os futuros muros das favelas cariocas, porém, vieram teoricamente com outros propósitos, que é o de conter o avanço das moradias (maneira mais educada de se referir aos paupérrimos barracos) sobre as encostas e áreas de preservação ambiental.

A iniciativa para a construção dos muros partiu do governo do Estado do Rio de Janeiro. Inicialmente estão nos planos a construção de muros para cercar 11 favelas da zona sul da capital carioca. Segundo pesquisas recentes do Instituto Datafolha, a opinião dos moradores está dividida, tanto daqueles que moram nos morros quanto daqueles que moram no “asfalto”. Nas favelas – de acordo com os números e considerando a margem de erro de quatro pontos percentuais da pesquisa – 47% é a favor e 46% é contra a construção dos muros. Nos círculos nobres que cercam os morros, onde moram famílias de classes mais elevadas, os números também mostram um racha nas opiniões, com 44% a favor e 46% contra.

Em um dos locais onde haverá muros, no morro Dona Marta, existe quem é contra e quem é a favor. Alguns moradores se queixaram aos institutos de pesquisa alegando que a construção do paredão não foi proposta, e sim imposta pelo Estado. Se estamos em um estado democrático e a população do local não foi ouvida, então talvez os moradores do Dona Marta fazem parte de um estado aristocrático. Se o estado está realmente impondo os muros na zona sul carioca fica quase implícito o uso da força por parte da administração do governador Sérgio Cabral. Não a força bruta, mas uma força “fria”, aquela que estabelece que as regras são impostas pelo estado e que não é possível burlá-las.

A construção dos muros em morros do Rio de Janeiro repercutiu tanto que até intelectuais de fora do país criticaram a obra, como o escritor português José Saramago, que protestou em seu blog. Simbolicamente a obra realmente causa impacto. Os turistas que visitarem a cidade maravilhosa terão um novo cartão-postal para compor suas fotos, que serão as Grandes Muralhas do Morro. Causa choque também o valor desprendido para por de pé o projeto: R$ 40 milhões para erguer 11 quilômetros de paredões com três metros de altura – se não for desviado nenhum tostão.

Talvez o pequeno grande detalhe da altura do muro é o que está criando o imbróglio. Se o objetivo é apenas o de impedir que a população avance sobre áreas de proteção, por que então algo tão alto? Em outras favelas cariocas, como no Vidigal, o projeto Favela-Bairro também construiu muretas para servirem como limites identificáveis, mas que medem apenas 30 centímetros de altura. Além do mais, o Instituto Pereira Passos fez um levantamento e concluiu que todas as comunidades escolhidas para a construção do muro cresceram em área menos do que outros bairros. Ou seja, a população desses locais não é alienada a ponto de arriscar a vida de suas famílias construindo em terreno que pode oferecer risco aos demais.

É por essas e outras que muitos cidadãos acreditam que a função do muro – escondida nas intenções do governo – seria a de criar uma barreira para o poder paralelo que toma conta dos morros cariocas. Se a intenção do estado é realmente reprimir os bandidos dessas áreas há métodos mais eficientes, como oferecer emprego, educação e melhores condições de vida para quem já é discriminado por ser favelado. Erguer muros não vai diminuir a violência do asfalto, mesmo porque o foco dos altos índices de violência do Rio não são apenas as favelas. Levantando muros o estado cria mais uma barreira contra a população discriminada dos morros, enquanto o aceitável seria trazê-la para o seu seio.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

PROMOÇÃO DO DIA: SURRA GRÁTIS


Por Joannes Lemos

Imagine-se entrando na faculdade onde você estuda (e que paga mensalidades caríssimas) quando de repente é agredido por algum segurança somente porque o elevador em que você entraria está lotado? Ou então pegar uma enorme fila no supermercado e de quebra levar uns belos safanões da mulher estressada do caixa? As indagações acima servem apenas como reflexão, pois acredite: algo pior e mais humilhante do que isso pode acontecer. E aconteceu.

Que o digam os usuários dos trens metropolitanos do Rio de Janeiro. Não bastasse o aperto por ter que utilizar um sistema de transporte que dá sinais de esgotamento devido à superlotação, os usuários dos trens cariocas, de quebra, ainda apanham daqueles que deveriam zelar pela segurança do sistema. Convenhamos que boa parte dos usuários são extremamente mal-educados e sem o mínimo de noção de coletividade. Um erro, no entanto, não justifica o outro.

As cenas dos seguranças da SuperVia – concessionária que administra o transporte ferroviário do Rio – agredindo os usuários do sistema são revoltantes. Na verdade os passageiros foram chibatados com se fossem animais. Para tal ação os “auxiliares” da SuperVia (que de super não tem nada, devido ao sucateamento das vias, estações e trens) utilizaram o cordão do apito para surrar os passageiros que estavam próximos às portas.

A função desses funcionários seria a de organizar o fluxo de passageiros nas plataformas das estações antes e depois do embarque nos trens. Uma das tarefas essenciais é a de fechar as portas das composições em momentos de superlotação – que acontece o tempo todo –, fato que se intensificou nos últimos dias devido à greve composta principalmente por maquinistas. A paralisação prejudicou os 10 milhões de usuários diários das linhas férreas de 11 municípios do Grande Rio, que tem 225 Km de extensão.

Em nota, a direção da SuperVia informou que os agentes agressores foram demitidos por seus excessos, afirmando ainda que faz parte de sua política de gestão oferecer treinamento aos funcionários. “É importante ressaltar que essa atitude viola o Código de Ética e Conduta da SuperVia e que todos os agentes de controle são treinados para tratar com respeito e dignidade os passageiros”, diz um trecho da nota. Vendo as imagens fica difícil acreditar que isso seja verdade, apesar de que a atitude daqueles funcionários covardes não pode ser tomada como o padrão dos demais.

A SuperVia opera há muitos anos devido a um contrato que tem com o governo do estado do Rio de Janeiro. A concessão não se restringe a vender bilhetes de passagem, mas a de manter em bom estado de conservação os trens e estações. Mas o que é visto atualmente é um sistema depredado, que não oferece nenhum conforto aos usuários que pagam R$ 2,45 por passagem. Agora estão em estudo as penas que serão impostas à empresa, que inclui inclusive a possibilidade de suspensão do contrato. Em qualquer país sério isso já teria sido levado a cabo há muito tempo.

segunda-feira, 30 de março de 2009

JUSTIÇA TARDA E ÀS VEZES NÃO FALHA

Por Joannes Lemos

Crise global, queda do IPI incidente sobre carros e motos, redução de impostos sobre materiais de construção e uma série de medidas que o governo federal vem tomando para conter a marolinha da economia global. Enquanto que de um lado há um esforço para refrear o avanço da crise, principalmente mexendo na pesada carga tributária brasileira, por outro lado algumas pessoas deitam e rolam na sonegação fiscal. Que o diga Eliana Tranchesi, 53, dona da Daslu, a mega-luxuosa loja de artigos ultrafinos.

A prisão de Eliana, do irmão dela, Antonio Carlos Piva de Albuquerque e mais cinco pessoas ligadas ao esquema de fraudes da Daslu não serviu apenas para alimentar as pautas dos veículos de comunicação. O que surpreendeu foi a pena de 94 anos e meio que Eliana e o irmão foram condenados, maior que a de conhecidos criminosos, como Suzane Richthofen (39 anos), ou Marcola, líder do PCC (40 anos). A decisão da juíza Maria Isabel do Prado, da 2ª Vara Federal de Guarulhos foi elogiada por alguns bacharéis em direito e criticada por outros.

Em um momento como esses, no entanto, não basta uma condenação de dezenas de anos para mostrar que a justiça foi feita. As instâncias superiores da justiça brasileira precisam ter cautela e saber a pena que cada um realmente merece. Anos de impunidade em uma terra onde apenas a elite foi beneficiada com as benesses da justiça não podem ser exemplificados com medidas extremistas, apenas para dar uma lição de moral. A ação hollywoodiana da Operação Satiagraha demonstrou isso muito bem.

O que muita gente no Brasil já sabe é que esses anos todos a que Eliana foi condenada serão diluídos talvez em meses de pena. E não é de hoje que a Daslu está na mira da Polícia Federal. Em outubro de 2004 uma nota fiscal apreendida pela PF no Aeroporto de Cumbica já havia levantado suspeitas, por ser diferente da mesma nota apresentada à Receita Federal. Em nova ação da PF em 2005 vários documentos da Daslu foram apreendidos, quando Eliana Tranchesi ficou 12 horas detida prestando depoimento. O irmão dela foi preso e solto após cinco dias. Em dezembro de 2006 a Receita Federal autuou a Daslu em R$ 236 milhões por sonegação de impostos. Em abril de 2008 acontece nova manifestação da justiça, quando o Ministério Público pede a condenação de 28 anos de Eliana. Número que agora pulou para 94 anos e meio.

A opinião pública não pode ficar com ‘peninha’ de Eliana só porque ela está fazendo um tratamento de câncer. Todos sabem que é uma doença cruel, mas nada anula os crimes cometidos como formação de quadrilha, descaminho e falsidade ideológica. E tudo o que foi sonegado, segundo a Receita Federal, é algo perto de R$ 1 bilhão. Levá-la direto ao presídio feminino do Carandiru certamente não foi uma decisão acertada. Quem não deve não teme, mas quem deve quase R$ 1 bilhão aos cofres públicos não está na situação de exigir caviar e colchão d’água na cela.